DISCURSO AMOROSO URBANO NA MÚSICA POPULAR BRASILEIRA (MPB)
Hoje, 11 de fevereiro de 2013, nosso Blogue (o Blogue CIDADE) inicia uma série de postagens (esperemos que muito longa série) acima intitulada. Ainda que não formal e sequenciadamente, este Blogue publicará artigos e textos analíticos, e letras, da MPB antes da Bossa Nova (Ataulfo Alves, Lupicínio Rodrigues, Cartola, Noel Rosa e tantos outros) e depois da Bossa Nova (Chico Buarque, Vinicius de Moraes e mil outros).
O recorte urbano possível do discurso amoroso será também o recorte urbano possível da produção da MPB pré e pós Bossa Nova
Abramos esta série com um trecho do clássico de Roland BARTHES "Fragmentos de um Discurso Amoroso" :
O recorte urbano possível do discurso amoroso será também o recorte urbano possível da produção da MPB pré e pós Bossa Nova
Abramos esta série com um trecho do clássico de Roland BARTHES "Fragmentos de um Discurso Amoroso" :
"Tento recordar teu rosto, nome. Curioso, como às
vezes nos escapam os traços da pessoa amada. Situo-te num passado já distante.
Não te imagino num presente. De ti resta-me o que foste comigo. E foste-me
ternura e descoberta do meu corpo, de minhas mãos até então inábeis que
ensinaste a acariciar teus cabelos, a sentir teu corpo; e ainda descoberta de
que a minha voz tinha um sentido para além de sons mais ou menos indistintos e
vagos.
(...) Foram precisos muitos acasos, muitas
coincidências surpreendentes (e talvez muitas procuras), para que eu encontre a
Imagem que, entre mil, convém ao meu desejo. Eis um grande enigma do qual nunca
terei a solução: por que desejo Esse? Por que o desejo por tanto tempo,
languidamente?...
Todos os “fracassos” de amor se parecem (procedem
todos da mesma falha). X... e Y... não souberam (puderam, quiseram) responder
ao meu “pedido”, aderir à minha “verdade”; para mim, um não fez senão repetir o
outro. E, entretanto, X... e Y... são incomparáveis.
A errância amorosa tem seus lados cômicos: parece
um balé, mais ou menos rápido conforme a velocidade do sujeito
infiel; mas é Wagner também uma grande ópera. O Holandês maldito é condenado a
errar sobre o mar até encontrar uma mulher de uma fidelidade eterna. Sou esse
Holandês Voador; não posso parar de errar (de amar) por causa de uma antiga
marca que me destinou, nos tempos remotos da minha infância profunda, ao deus
Imaginário, que me afligiu de uma compulsão de fala que me leva a dizer “Eu te
amo”, de escala em escala, até que qualquer outro escolha essa fala e a devolva
a mim; mas ninguém pode assumir a resposta impossível (que completa de uma
forma insustentável), e a errância continua.
Como termina um amor? - O quê? Termina? Em suma
ninguém - exceto os outros - nunca sabe disso; uma espécie de inocência mascara
o fim dessa coisa concebida, afirmada, vivida como se fosse eterna. O que quer
que se torne objeto amado, quer ele desapareça ou passe à região da Amizade, de
qualquer maneira, eu não o vejo nem mesmo se dissipar: o amor que termina se
afasta para um outro mundo como uma nave espacial que deixa de piscar: o ser
amado ressoava como um clamor, de repente ei-lo sem brilho (o outro nunca
desaparece quando e como se esperava). Esse fenômeno resulta de uma imposição
do discurso amoroso: eu mesmo (sujeito enamorado) não posso construir até o fim
de minha história de amor: sou o poeta (o recitante apenas do começo); o final
dessa história, assim como a minha própria morte, pertence aos outros; eles que
escrevam romance, narrativa exterior, mítica."
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