terça-feira, 26 de fevereiro de 2013

DISCURSO .../7- 'NOITE E 'BOSSA VELHA' (2)

DISCURSO AMOROSO URBANO/ 7
NOITE  E ‘BOSSA VELHA’ (2)
Vicente D. MOREIRA
Especial para o Blogue CIDADE


O convidado de hoje é Herivelto Martins (1912 - 1992) e sua composição "Bom Dia", interpretada por Dalva de Oliveira, o grande amor de sua vida:


http://www.youtube.com/watch?v=J2SMlTo1abY

Amanheceu, que surpresa
Me reservava a tristeza
Nessa manhã muito fria
Houve algo de anormal
Tua voz habitual
Não ouvi dizer
Bom dia!


Teu travesseiro vazio
Provocou-me um arrepio
Levantei-me sem demora
E a ausência dos teus pertences
Me disse, não te convences
Paciência, ele foi embora

Nem sequer no apartamento
Deixaste um eco, um alento
Da tua voz tão querida
E eu concluí num repente
Que o amor é simplesmente
O ridículo da vida


Num recurso derradeiro
Corri até o banheiro
Pra te encontar, que ironia
E que erro tu cometeste
Na toalha que esqueceste
Estava escrito bom dia

Toda a ironia dos versos ...
E que erro tu cometeste
Na toalha que esqueceste
Estava escrito bom dia
... ironia assumida, aliás, pelo próprio Herivelto ...
traduzida no escrito "bom dia"  na toalha de banho. No caso,
na toalha esquecida. 

(Lembram que as toalhas de banho, antigamente, traziam
mensagens de igual simpatia?)

A noite pode não ter sido das melhores, mas ela abrigou o ser 
amado em repouso sobre o travesseiro vizinho ... agora vazio;
 abrigou, também, as idiossincrasias  e os pertences do(a)  
amado(a). 

Mas chegou o dia - o mau e estranho dia:
Houve algo de anormal
Tua voz habitual
Não ouvi dizer
Bom dia!
um dia cheio de vazios deixados pelo amor que fugiu às escondidas, em silêncio, o abandono sem
barulhos na calada da noite. O dia traz o luto e a resignação:   
Paciência, ele foi embora.

O dia traz a revolta estoica, consoladora e acobertadora da dor

de ter sido abandonado(a):

E eu concluí num repente
Que o amor é simplesmente
O ridículo da vida



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