POSTAGENS DE POESIAS QUE EXIBAM
ALGUM DESTAQUE À CIDADE
CARNAVAL DE ONTEM E DE HOJE Cruz e Souza Do apartamento de Dora Ouve-se o ruído lá fora Do carnaval que já vem. O samba do morro desce E a gente do morro esquece Do gosto que a vida tem. A Vovó fica alarmada! Que terror esta enxurrada De gente suja e brutal! As mulheres, quase nuas, Homens de saia, nas ruas, - Meu Deus, isto é carnaval? "No seu tempo", felizmente, Era tudo diferente À neta ela explica, então: - Gente distinta, educada, Batalhava na calçada Do Jockey, que animação! O corso era uma beleza! Que elegância, que riqueza De confeti e serpentinas! Sobre as capotas descidas Moças bonitas, vestidas Das fantasias mais finas. Nos bailes, que brincadeira! Nem pulos, nem bebedeira, Todos podiam dançar. Mas de outro modo, distinto: Se era "família" o recinto, Ninguém mais podia entrar. Dançava-se o tempo todo. Brincava-se mesmo a rodo, Sem mal, contente e feliz. E o lança-perfume, eu penso Não era usado no lenço E abusado, no nariz! Às vezes, um mascarado Chegava, alegre e engraçado, Metido num dominó. Passava, dando os seus trotes, Depois lá ia, aos pinotes, Brincalhão, como ele só! E a Vovó contava à neta... Dorinha ouvia, bem quieta Mas, de repente diz: - Qual, Vovó, desculpe o que eu digo Mas que chato é o tempo antigo! Meu Deus, isso é Carnaval? |
DADOS BIOGRÁFICOS
[fonte: Shvoong Home>Livros>Biografias>Resumo de João da Cruz e Souza - Vida e Obra ]
João da Cruz e Souza, poeta, jornalista, professor, nasceu na cidade de Desterro (atual Florianópolis), Santa Catarina em 24 de novembro de 1861. Filho de escravos alforriados, teve educação cuidada pelos antigos senhores de seus pais. Em 1882 e 1883, viajou pelo Norte do país, como secretário e ponto de uma companhia teatral. De novo em Desterro, integrou-se ao movimento abolicionista, atuando na imprensa. Indicado para uma promotoria pública em Laguna, no interior de Santa Catarina, teve a nomeação barrada devido ao racismo. Em 1885, funda o jornal O Moleque, título que deu lugar à exploração mordaz por parte dos adversários. Em 1890, já no Rio de Janeiro, ingressa no funcionalismo público, como amanuense da Estrada de Ferro Central do Brasil, cargo humilde e pouco rendoso, que não lhe permitia sair da vida de privações. Influenciado pelo movimento decadentista francês, lançou, no jornal Folha Popular, em 1891, com B. Lopes, Oscar Rosas e Emiliano Perneta, o manifesto que viria dar corpo ao movimento simbolista, iniciado com a publicação dos livros Missal e Broquéis. Ao lado das dificuldades financeiras, passou por muitos dissabores na vida intelectual, jamais logrando bom acolhimento nas redações dos jornais e nas rodas literárias. Seu sofrimento, acentuado pela morte do pai e pelo enlouquecimento da esposa, Gavita Rosa Gonçalves, conduziu-o a uma crise, que o levou a adquirir tuberculose, do que viria a morrer.
"Poeta Negro", "Dante Negro", "Cisne Negro"... não são poucos os epítetos colocados nesse poeta que, tendo morrido em 1898, já foi comparado a Mallarmé, Baudelaire, Stefan George e Lautréamont, entre outros escritores de grande importância internacional. Num momento em que o Naturalismo e o Parnasianismo determinavam o cânone literário do país, o aparecimento de ‘Broquéis’ inaugura o Movimento Simbolista no Brasil, adquirindo com Cruz e Sousa (um filho de escravos libertados que, apesar disso, recebeu uma educação aristocrática e se manifestou amplamente a favor do abolicionismo) uma característica inteiramente singular. Se sua originalidade decorre da capacidade criativa e da dedicação, as tragédias da vida não foram menos importantes para a formulação de uma poética simultaneamente pensada e nevrálgica, ou, como já se disse, "selvagem". Com ele, através de uma desconexão lógica da imaginação e de uma multiplicidade significativa da linguagem, a subjetividade se abre, doridamente, a uma misteriosa violência cósmica e ontológica. Talvez, outro poeta não tenha tido um trabalho tão afim ao dele quanto Van Gogh.
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