domingo, 6 de novembro de 2011

EMCONTO COM AS CIDADES - HOVANÉS TUMANIAN

EMCONTO COM AS CIDADES
POSTAGENS DOMINICAIS DE CONTOS 
QUE EXIBAM ALGUM DESTAQUE  À CIDADE



A GOTA DE MEL
Hovanés Tumanian
(poeta e contista armênio (1869 - 1923)

Num vilarejo, um camponês abrira pequeno empório.
Certo dia veio um pastor de aldeia vizinha, rapaz alto,
 robusto, atlético, cajado no ombro, canzarrão do lado.
    – "Bom dia, amigo! Queria um pouco de mel. Você tem?".
– "Bom dia, pastor! Claro que tenho.
 Pega uma tigela e traz aqui!".
E assim, com sorrisos e boas maneiras
os dois conversavam quando, de repente,
uma gota de mel caiu no chão. Imediatamente
uma mosca posou nela. O gato do camponês
 deitado que estava, ouvindo o zunido da mosca
abriu um olho e aproximou-se bem devagarzinho
do inseto. De repente com uma patada matou
a mosca. Mas o cão que estava atento pulou
 em cima do gato, sufocou-o debaixo dele,
 mordeu-o e por fim matando-o jogou-o longe.
– "Meu gato! Meu gato!" gritou o camponês.
"Meu único companheiro, você o matou!"
e pegando um espeto de ferro que estava
a mão, enfiou-o goela abaixo do cachorro.
– "Seu canalha, patife, safado!" gritou o
pastor."Você matou o meu ganha-pão, 
meu fiel companheiro, guardião das minhas ovelhas"
 e levantando o cajado desferiu terrível golpe
na testa do camponês que se estatelou no chão
dando o último suspiro.
Um vizinho que passava presenciou a cena
 e começou a gritar:
–"Assassino! Mataram o nosso amigo!
Venham ver".
A aldeia toda acorreu. Homens, mulheres,
crianças, pais, mães, filhos, filhas, irmãos,
irmãs, sogros, sogras, noras, genros, cunhados,
cunhadas acorreram e vendo o pastor com o
cajado na mão começaram a apedrejá-lo.
Pouco depois o forasteiro desabou e foi
trucidado ali mesmo.
Um compatriota do pastor que estava
 presente, logo correu para a aldeia vizinha
 e começou a gritar:
–"Mataram nosso pastor! Os covardes
atacaram-no todos juntos! Não lhe deram
chance! São assassinos!".
A aldeia inteira se levantou e marcharam
em direção a aldeia vizinha, alguns
com espingardas, outros com picaretas,
espadas, pás, pedaços de pau, machado,
alguns a cavalo outros a pé, gritando:"
Que tipo de gente é essa? Um pobre rapaz
vai fazer compras e é assassinado!
Que costume bárbaro! São verdadeiros selvagens!
 Vamos vingá-lo! Vamos!".
E deu-se uma verdadeira batalha.
Era para ver quem mataria mais.
Com gritos selvagens engalfinhavam-se.
O sangue, feito rio, corria pelas ruas.
E tudo se acalmou quando não havia
mais ninguém dos dois lados.
Esses vilarejos situavam-se de um lado
 e de outro da fronteira de dois países.
Quando o rei de um deles soube do acontecido,
convocou seus ministros e disse:
¾"Acabo de ser informado que nossos
vizinhos atravessando a fronteira,
vieram para massacrar nosso povo
 Não podemos tolerar tal agressão.
Que nosso exército seja mobilizado.
Vamos atacar esse país de covardes!"
O outro rei, por seu turno,
fez exatamente o mesmo. Iniciou-se então
uma guerra sangrenta que durou anos e anos,
semeando terror, fome, e desgraça.
Quando os países ficaram exauridos,
a guerra acabou. Os sobreviventes,
 nunca souberam o motivo dessa guerra.
Muitos anos mais tarde, tudo entrou
na normalidade. Tudo foi esquecido
pelas novas gerações e as pessoas voltaram
a comprar mel ou vinho, sendo bem atendidos
 nos dois lados da fronteira.
Moral: as guerras começam quase sempre
 por motivos fúteis.

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