terça-feira, 8 de novembro de 2011

FOLHA DE S PAULO - EDITORIAL - RIOS MORIBUNDOS

[jornal Folha de São Paulo. São Paulo (SP - Brasil), 8 de novembro de 2011,  p.  A2 (Editorial)]
Rios moribundos
Situação do Tietê e do Pinheiros, ainda poluídos após 20 anos de limpeza, tem saída, mas exige mais empenho do governo

 
O governo de São Paulo já despejou quase R$ 3 bilhões em programas de despoluição nos principais rios que atravessam a cidade, mas a sujeira do Tietê e do Pinheiros incorporou-se de forma perene à paisagem da cidade.
Não se trata de um problema insolúvel, como demonstram experiências em cidades que abordaram com seriedade o problema da poluição de seus rios. Um dos casos mais famosos é o do Tâmisa, em Londres, que passou de rio biologicamente morto, em 1957, a modelo de recuperação -no ano passado, ganhou um dos prêmios ambientais mais importantes do mundo.
O contraste com o Tietê é exasperante. Depois de quase 20 anos de um megaprograma de recuperação, o rio está ainda mais sujo no trecho que corta São Paulo. De seis pontos monitorados desde 1992, registrou-se piora em cinco.
A situação do Pinheiros não é muito diferente. E beira o escárnio o fato de o governo do Estado, após uma década que consumiu investimentos de cerca de R$ 160 milhões, ter concluído que o método utilizado na tentativa de despoluir o rio não é eficaz.
O estado de degradação dos rios paulistanos registrou até uma nota anedótica há algumas semanas, quando uma lancha esportiva de alta velocidade levou mais de uma hora para navegar 12 km do Tietê. A sujeira enroscou-se nas hélices e inutilizou dois motores, levando a embarcação a gastar mais tempo no percurso que os automóveis que se arrastavam pelas faixas da marginal no horário de pico.
Tratando-se de um Estado governado desde 1995 pelo PSDB, não se pode alegar falta de tempo ou descontinuidade política. O argumento de que a situação estaria ainda pior se nada tivesse sido feito faz sentido, mas não basta para eximir o governo de sua responsabilidade.
Se é verdade que o tratamento de esgoto quadruplicou na Grande São Paulo, é fato também que ainda está muito longe de chegar à totalidade da região, o que está previsto para ocorrer em 2020. Hoje, mesmo bairros "ricos" despejam resíduos sem tratamento nos rios.
A poluição do Tietê e do Pinheiros é uma espécie de monumento à incapacidade dos governantes brasileiros de traduzir a melhoria da situação do país em cidades menos hostis e mais bem resolvidas sob a ótica urbanística.
O problema extrapola a questão estética, do horrendo esgoto a escorrer a céu aberto, ou olfativa, do odor insuportável em suas proximidades -a poluição dos rios também é uma das maiores culpadas pelos constantes alagamentos a cada chuva mais forte.

Já não são mais aceitáveis desculpas ou soluções paliativas. O governo paulista precisa acelerar o programa de despoluição e adequá-lo à expansão da região metropolitana. No ritmo atual, as ações parecem destinadas a adiar indefinidamente a necessária revitalização dos rios da cidade.

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