MINHA RUA, MINHA SUBJETIVIDADE AFETIVA (1)
Se essa rua , se essa rua fosse minha
Eu mandava, eu mandava ladrilhar
Com pedrinhas, com pedrinhas de brilhante
Para o meu, para o meu amor passar
Eu mandava, eu mandava ladrilhar
Com pedrinhas, com pedrinhas de brilhante
Para o meu, para o meu amor passar
Nessa rua, nessa rua tem um bosque
Que se chama, que se chama solidão
Dentro dele, dentro dele mora um anjo
Que roubou, que roubou meu coração
Que se chama, que se chama solidão
Dentro dele, dentro dele mora um anjo
Que roubou, que roubou meu coração
Se eu roubei, se eu roubei teu coração
Tu roubaste, tu roubaste o meu também
Tu roubaste, tu roubaste o meu também
Se eu roubei, se eu roubei teu coração
É porque, é porque te quero bem
http://www.youtube.com/watch?v=9o_-65ufO5U
(Domínio público - Canção popular infantil, música de roda)
Vicente Deocleciano MoreiraÉ porque, é porque te quero bem
http://www.youtube.com/watch?v=9o_-65ufO5U
(Domínio público - Canção popular infantil, música de roda)
Mais que a nação, o município é a realidade urbana e afetiva mais próxima de cada uma de nós; mas em nada ele supera as proximidades (física, econômica, vicinal ...) e as afetividades da rua em que moramos. É da rua que somos cobrados, em primeira mão, em prima instância, a informação sobre onde residimos; mesmo que tal endereço não seja horizontal - rua tal, casa número tal ... e sim edifício X, apartamento YZ.
Salvo quando nosso endereço (ou endereçamento) ou o destino de nossa transumância (deslocamento, viagem) urbana é comercial, profissional, educacional (escola, faculdade ...) ou o consultório onde vamos cuidar da saúde, no caso do endereçamento residencial dificilmente o nome do edifício vem antes e até substitui o nome da rua; mesmo quando tal substituição acontece, o nome do edifício (famoso e conhecido pela maioria dos moradores daquela urbe passa a ser o 'nome' da rua.
O edifício se transfigura no nome da rua e, não raras vezes, esquevcemos ou jamais saberemos o nome da rua onde aquele imóvel está situado. É o caso do Edifício Copan na cidade de São Paulo (Brasil), projetado pelo artquiteto Oscar Niemeyer, na década de 50, e por demais conhecido dentro e fora do Brasil.
Alguém sabe em que rua fica o Edifício Copan? Aqui vai: Av. Ipiranga, 200 - República. São Paulo (Capital). Quem envia correspondência, pelos Correios, para algum morador do Copan precisa mesmo escrever este endereço além do andar e do nímero do apartamento?
Mas, vamos à tradicional cantiga (de autor anônimo/domínio público) que embalou a infância de tantos brasileiros que hoje têm a partir de 30 anos de idade. Nela - como em tatas outras obras musicais que fazem alguma referência à rua - está presente o sentimento de posse: MINHA RUA; mesmo quando, no caso, esse sentimento esteja subliminar a um desejo: SE esta rua fosse minha, eu teria poder de mandar ladrilhá-la ... pedindo ou não solicitando autorização dos moradores; para o MEU amor passar. Importa única e exclusiva e autoritariamente meus sentimentos ... como somente e o meu amor residíssemos nesta/naquela rua.
SE essa rua fosse minha - mas não o é - eu faria isso e aquilo. O SE remete à ordem do desejo, da falta. Da falta que, por sua vez, inventa o desejo; a essência do desejo é o nunca realizar-se.
Posse imaginária e afetividade marcam a nossa relação com a rua em que moramos; quando - claro! - dela gostamos, quando gostamos de nela morar. Essas subjetividades de pertença e de vontade de poder que nos liga à rua em que residimos não são encontradas. com facilidade, nas nossas relações com as ruas onde trabalhamos, estudamos, cuidamos da saúde, etc. Tudo indica que as subjetividades não estão ligadas diretamente proporcionais ao tempo de permanência diária, cotidiana, na rua residencial e na rua comercial. Quer dizer: apesar de a maior parte das pessoas de uma cidade permanecerem mais horas, durante cada dia, no trabalho que no lar ... é neste último, é na rua em que residimos onde exercemos maior carga de imaginária de poder e de afetividade.
Comparativamente à rua em que residimos. praticamente não temos lá tanta afetividade e tanto sentimento de pertença e de poder em relação à rua em que trabalhamos, estudamos ... nos divertimos ... Tanto isso é verdade que nas cidades tipificadas como modernas verifica-se uma tendência interessante: morar e trabalhar na mesma torre, na torre vizinha (vale talvez dizer na mesma 'rua') ou morar, trabalhar e atravessando o subsolo divertir-se, comprar, fazer refeições no shopping center alí bem perto.
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