À CIDADE COM CARINHO
SANTO AMARO DA PURIFICAÇÃO
BAHIA - BRASIL
MARIA BETHÂNIA - ENTREVISTA A ZUZA HOMEM DE MELLO
ZUZA – Que lembranças você tem de Santo Amaro da Purificação?
MARIA BETHÂNIA – As melhores, sempre as melhores. Santo Amaro é muito forte na minha vida, sempre foi e a cada dia essa memória vem com mais intensidade e, se eu não tomar cuidado, fico indo muito para lá. Eu me pergunto quantos dias entre uma coisa e outra, fico atraída. É uma memória saudável de uma casa bem estruturada. Havia um amor como eu nunca vi, de meu pai com minha mãe, um amor fraterno, raro. Só em algumas famílias eu consigo assistir a algo tão próximo ao que eu vivi. A cidade está muito decadente arquitetonicamente, sabe como é, o dinheiro vai entrando, e vão botando puxadinhos, lajes, vão derrubando os frontispícios, os grandes sobrados somem, as praças são modificadas, asfaltam a cidade. Oque, para quem mora lá, é útil, porque facilita a vida deles. Mas eu, que fico com aquela lembrança, quando chego tudo me dói.
ZUZA – qual é sua relação com o mar? [Bethânia parece se surpreender, dando a impressão de que vai falar sobre o que lhe diz muito. Faz uma pausa e começa}
MARIA BETHÂNIA – Sou humana, mas tenho uma guelra, é no mar que me sinto em casa. Pé no chão, para mim é estranho. Quando estou numa embarcação, na água, no mar, tenho mais naturalidade. Sou enlouquecida por mar. Conheci o mar pequenininha. Quando nasci só podíamos sair de Santo Amaro para Salvador de navio ou de motriz. Santo Amaro é porto, a foz do rio Subaé é , dentro da cidade, chama-se O Conde, é um mar aberto. Passávamos dezembro, janeiro e fevereiro em Itapema, que é a primeira praia, 20 minutos, e faz parte de Santo Amaro. Santo Amaro tem praia, é no interior, mas tem mar. É um mar diferente. Conheço o mar do Caribe, aquele deslumbramento, tudo lindo, mas não me comove nem um terço do de Santo Amaro, que tem aquele mar meio de palha, do fundo da baÍa de Todos os Santos, quente, meio lago e de repente onda. É o paraíso.
Extraído do livro Música com Z, de Zuza Homem de Mello. S. Paulo, editora 34, p 240-241.
Nenhum comentário:
Postar um comentário