sexta-feira, 18 de maio de 2012

CLÁUDIA ANTUNES - GLÓRIA, PARIS

CLÁUDIA ANTUNES - GLÓRIA, PARIS

[fonte - jornal Folha de São Paulo, São Paulo (SP - Brasil), 17 de abril de 2012, p. A2]

RIO DE JANEIRO - As prefeituras do Rio e de Paris assinaram, há três anos, um acordo para que técnicos franceses participassem de projetos de moradia e preservação do patrimônio em bairros do centro carioca. 

Na época, a vice-prefeita parisiense, Anne Hidalgo, falou da importância de garantir a mistura social na cidade. Em entrevista ao "Globo", explicou o sistema de cotas em implantação na capital francesa, pelo qual edifícios novos devem destinar 25% dos apartamentos para pessoas de menor renda -motoristas, enfermeiros e prestadores de serviços.

O Rio não levou a dica muito a sério, como é possível constatar na Glória, bairro histórico que, aliás, tem uma praça Paris -projeto de 1926 do francês Alfred Agache.

Com a recuperação econômica do Estado e os eventos esportivos, a Glória passou a ser cobiçada pelo mercado imobiliário. Preços de aluguéis e de compra de imóveis começam a ficar proibitivos, até para a classe média tradicional. Há pouco, anunciou-se que três edifícios dos anos 40, com fachada art déco e 112 apartamentos, serão transformados num conjunto de escritórios. Os inquilinos terão que sair em dois meses.

Desde as reformas do barão Haussmann em Paris, no século 19, planos de revitalização urbana que excluem os mais pobres das zonas centrais já foram tão criticados que não deveriam se repetir. No entanto são rotina. No Rio, os moradores expulsos das áreas revalorizadas têm como opções as favelas ou os bairros da zona oeste, distantes até 45 km do centro. Estes há tempos vivem uma expansão desregrada, que obriga a prefeitura a gastar mais para levar infraestrutura -transporte, escolas, hospitais- para longe.

Não é à toa que, segundo o último Censo, os cariocas estão entre os brasileiros que mais demoram para chegar ao trabalho -56% deles gastam mais de meia hora, sendo que 21% precisam de até duas horas.

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