segunda-feira, 18 de janeiro de 2016

O VERBO SE FAZ CARNE E HABITA ENTRE NÓS.

O VERBO SE FAZ CARNE E HABITA ENTRE NÓS.   

A carne só se faz verbo na metafísica. E no campo do diálogo privativo, secreto   e íntimo   entre  deuses e orixá, no universo da fé. Quando se ouve, se fala ou se lê que “O verbo divino se fez carne e habitou entre nós” é apenas uma tentativa ilusória e uma fantasia sem consequências   nocivas ao ambiente e à Via Láctea, de que Deus, Tupã, Oxalá   ...  os entes sobre humanos em geral ...  Fantasiamos que Eles possam    descer à vala das imperfeições humanas e da limitação maior da linguagem de não poder dizer tudo de absolutamente de  nada   ou de ninguém ... E falar conosco. E, nesse caso, perder a condição divina e se transformar no mais comum e ordinário dos mortais humanos. 

Os semideuses, os avatares como Jesus Cristo, Buda ... falam com os falantes devido à dupla natureza deles: humana e divina.  Natureza não exclusivamente divina (como os deuses). Mas   também não exclusivamente humana (como nós, humanos)

O VERBO SE FAZ CARNE E HABITA ENTRE NÓS

Toda linguagem é verbal. Não há linguagem (seja ela das gentes, seja ela das coisas que as gentes criam) que não seja verbal.  O verbal da linguagem não se reduz aos sons que depois de   comandados pelo cérebro são soprados pelas vias aéreas friccionam as cordas vocais   e   realizam o fenômeno do entendimento  e compartilhamento (habitação) ao vivo ou ao vídeo. Compartilhamento do que eu estou falando e do que o outro está falando. As expressões dos olhos, dos dedos (polegar e médio – o ‘mostrar o dedo’ dos gestos, (a Libras), a estática e a dinâmica do corpo em geral ...  são   exemplos de linguagens verbais pois verbalizam sentimentos, mensagens ... que se fazem carne e transitam/habitam entre as pessoas. E criam espaço para o diálogo entre elas.

Evidentemente que  ‘carne’ aí é numa metáfora para tudo que é concreto ou mesmo abstrato, na medida em que a abstração é uma forma de concretude. Já que a concretude – vinda de um signo concreto (um envelope, um elefante, etc, etc, etc ...)  ou   de um signo abstrato (a felicidade, a paz,  a  paixão, a fé , etc, etc, etc ...) tudo termina numa estação chamada cérebro.

Se A diz para B: “Estou sentindo uma coisa me apertando por dentro ...”. “Que coisa é? Pergunta B. A responde: “Não sei”. Por mais abstrata e intangível que possa ser essa   ‘coisa’ ela tem concretude. E por mais que essa ‘coisa’ seja indizível/intraduzível por A e, do outro lado, seja incompreensível para B, este último entende ... Dispensados, aqui,   os habituais  ‘diagnósticos’ da ‘coisa’ como sendo angústia, ansiedade, preguiça mental ... e outros vindos deles os  médicos e de, nós, os   loucos.

Eu não preciso mostrar um elefante ao meu interlocutor quando falo de elefantes; até porque nem sempre, nem mesmo estando na Índia agora,  eu disponho desse animal para exibir ou de uma figura, desenho para mostrar. E   mesmo que os tivesse, agora, já,  eu estaria dispensado de mostrá-lo `à pessoa com quem estou a dialogar

BABEL

Examinemos a narrativa mitológica   da Torre de Babel.  Deus  castiga os humanos que estavam a construir uma torre que os levaria até o céu e assim desafiar com atrevimento o próprio Deus. Eis o castigo: Ele coloca uma linguagem diferente na boca (e no cérebro) de cada um dos construtores da torre, essa diferença   atinge os eventuais construtores em todas as suas formas de verbalização: fala, gestos com as mãos e com as demais partes do corpo. 

A linguagem é a certidão de nascimento do sujeito   do consciente (do social) & do inconsciente. Do ser humano enfim. Ela é a base da cultura. 

DANDO LÍNGUA PARA A SUA MAJESTADE A RAINHA DA INGLATERRA

Quando a Rainha da Inglaterra visitou os Maoris (Nova Zelândia), estes devidamente pintados e paramentados  para o importante momento, receberam a majestade britânica dando-lhe   língua. A rainha ficou ruborizada e constrangida mas, membros da sua comitiva se apressaram a lhe explicar que aqueles povos só davam língua a celebridades, para agradar e mostrar respeito a   pessoas extremamente importantes que lhes visitassem.

No Ocidente em geral, os significados do expor a língua ao outro vão desde uma infantilidade  a uma provocação de cunho erótico.

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