domingo, 17 de janeiro de 2016

MOISÉS, MARX, FREUD E A QUESTÃO DO FETICHE.

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No léxico comum, fetiche é um “objeto animado ou inanimado, feito pelo homem ou produzido pela natureza, ao qual se atribui poder sobrenatural e se presta culto” (Holanda, A B Minidicionário da Língua Portuguesa Aurélio 1993)

Tanto Karl Marx (1818-1883) como Sigmund Freud (1856-1939) para alimentar e construir seus respectivos conceitos de fetiche/fetichismo, de uma certa forma buscaram inspiração no expressivo episódio mosaico narrado pela Torá (livro sagrado dos Judeus)

Moisés ('in illo tempore') se afasta fisicamente (mas não espiritualmente)  de seu povo e vai ao Monte Sinai onde, durante algum tempo (dias? meses?), se dedica à meditação. Seus liderados se valem desta ausência para se organizarem politica e espiritualmente. Até que se abrem os céus para o tão esperado sinal: as Tábuas da Salvação, onde estavam inscritos  os “Dez Mandamentos”. 

Moisés,  desce do Sinai e ao lhes apresentar esta Boa Nova constata que seus liderados , durante sua ausência e influenciado pelas novas lideranças (políticas e espirituais),  haviam fundido todo o ouro e jóias que puderam acumular e construíram a imagem de um novo deus: um bezerro de ouro -  o qual passou a ser servido como objeto de adoração e glorificação. Esse novo deus era chamado de Fetiche.

Marx (em “O Capital”) afirma que a mercadoria (manufatura) depois de finalizada perdia seu valor real de venda – valor este determinado pela quantidade de trabalho humano materializado para construí-la. Essa perda implicava numa valoração de venda irreal pois não resultava da mensuração do fruto do trabalho para produzir a  mercadoria. E, portanto, ela perdia sua relação com o trabalho e ganhava autonomia e vida próprias. Transformava-se no “Fetiche da Mercadoria”. “O Capitalismo transforma tudo em mercadoria”, costuma-se denunciar.

O interesse de Freud pelo Fetichismo se presentifica em sua obra, desde "Três Ensaios sobre a Teoria da Sexualidade" (1905), até "A Divisão do Ego nos Processos de Defesa" e "Esboço de Psicanálise", ambos de 1938, distribuindo-se em inúmeras abordagens que, direta ou indiretamente, são contribuintes ao estudo do tema.

Freud (“Três Ensaios sobre   Teoria da  Sexualidade”) identifica situações de  fetichismo quando o objeto sexual normal (a mulher, o homem e seus respectivos corpos e erotiicidades) “é substituído por outro que conserva alguma relação com ele, mas é inteiramente inadequado para servir ao objetivo sexual normal". Tal objeto (calcinha, sapatos, brincos, etc.) que objetiva ‘substituir” o objeto sexual normal (a pessoa amada em toda sua completude e inteireza físico-erótica) tem o nome de Fetiche. No Fetichismo o objeto sexual normal é descartado e substituído pelo Fetiche.

No entanto, para o próprio Freud ... "Certo grau de fetichismo, portanto, está habitualmente presente no amor normal, especialmente naqueles seus estágios em que o objetivo sexual normal parece inatingível ou sua consumação é impedida". ("Três Ensaios sobre a Teoria da Sexualidade")

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