segunda-feira, 12 de novembro de 2012

FCCV - UM MORTO: UM PONTO MORTO





Leitura de fatos violentos publicados na mídia

Ano 12, nº 19, 29/10/2012 



UM MORTO: 
UM PONTO MORTO

Morreu no canteiro central da Avenida Paralela.[Salvador - Bahia - Brasil]. Era uma quinta-feira, 25 de outubro de 2012. Tinha 30 anos. O delegado, Sérgio Schlang, informa ao jornal A Tarde na edição do dia posterior à morte que “foram identificadas pelo menos dez perfurações à bala no corpo da vítima”. O assassinato ocorreu por volta das 17 horas, de acordo com o noticioso. Eliomar Andrade Silva “trabalhava como segurança e tinha sido preso por tráfico”, informa ao jornal um irmão da vítima.

Trinta anos e deles restam estes “sinais vitais”: era segurança, já foi preso e se encontrava no eixo central de uma das vias mais importantes da capital baiana quando foi dez vezes alvejado no final da tarde da última quinta-feira.
Ao observar o horário e o local da morte presume-se que o assassinato se deu naquele momento em que o trânsito é denso, o engarrafamento já está instalado na avenida e as pessoas que ali se encontram têm seus espíritos tomados pela vontade de ultrapassar a espera. É provável que Eliomar tenha morrido ladeado por filas de carros que, à direita, passam rumo ao norte e, à esquerda, seguem em direção ao sul. Eliomar é um ponto morto nesta estrada, na altura da Estação Mussurunga.
A ele não caberá monumento, uma lápide com palavras que exaltem a sua vida. Morre no lugar que separa o ir e vir dos automóveis, e esta localização soa como metáfora de sua própria inscrição na existência social. Vivo ou morto, ele é ou sempre está à margem, mesmo que imóvel no centro, mesmo que esteja dentro nunca terá a chance de se misturar, enquanto a estrada for ocupada por uma ordem que exclui do caminho os pobres, negros, jovens aos quais é atribuído como “causa mortis” o envolvimento com o tráfico de drogas. 

Como final deste engarrafamento fica a expressão: não há mais nada a fazer. Também aí se faz necessário usar outra marcha, em vez do freio. Para frente, há que se buscar a justiça em relação aos crimes que são cometidos diariamente. Para trás, é imperioso fazer valer o direito à vida além de promoção de políticas amplas capazes de tornar realidade os direitos sociais.   


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