quarta-feira, 21 de novembro de 2012

FCCV - CRIME: ONDE ESTÁ A NOVIDADE

FCCV

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Leitura de fatos violentos  publicados na mídia, 

Ano 12, nº 21, 19/11/2012



CRIME: ONDE ESTÁ A NOVIDADE


A experiência tem demonstrado que há situações violentas que são portadoras de força capaz de recobrar o tom crítico e de indignação política, midiática e social, tal como ocorre ultimamente com a sequência de mortes de policiais em São Paulo e, também, com as ações criminosas em voga no estado de Santa Catarina.

O tom mais exasperado no que tange às reações do poder público não é fruto da ampliação das mortes violentas nas referidas unidades federativas. Ao contrário, no caso paulista, parte da mencionada exasperação é constatada em uma das falas do governador quando o mesmo chama a atenção para o fato de que, não obstante a gravidade do momento, São Paulo conseguiu diminuir, sensivelmente, o volume de óbitos por violência.

Comparativamente, por exemplo, a Bahia não tem conseguido êxitos relevantes no que tange ao controle de mortes violentas. De acordo com os dados, é possível dizer que do ano de 2005 até o presente momento nunca se matou tanto em território baiano.

Por que os óbitos paulistas e os recentes ataques catarinenses têm assumido, pela expressão midiática e pelo posicionamento das autoridades nacionais, a condição de problema de segurança de maior relevância?

No caso paulista, a resposta aparece como óbvia e está ligada aos alvos desta violência. Talvez se possa dizer que jamais se matou tanto policial em São Paulo. Mas, é preciso lembrar que a situação, provavelmente, não teria o mesmo valor se os policiais vitimados não pertencessem ao estado mais rico do País, ou seja, a projeção do problema está relacionada ao peso do estado vitimado. Tem-se, então, um surto de violência cuja importância é constituída por uma composição que associa as mortes dos policiais com o poder simbólico do espaço alvejado.

Quando as preocupações nacionais convergem para o drama dos policiais paulistas, outros brasileiros tombam no mesmo solo e também em outras partes da federação. Mas, são falecimentos habituais, marcados pela cronicidade. E é por sobre esta proporção regular que se erguem em tons agudos as lancinantes notícias das unidadespolítico-geográficas mencionadas.

As ocorrências catarinenses, ao se verificarem no tempo de duração da crise paulista e registrarem em comum os incêndios a ônibus tendem a ser associadas com os eventos de São Paulo: haveria uma expansão territorial das ações? São Paulo estaria funcionando como espelho para o incremento de práticas criminosas por outros grupos? As atuações dos criminosos sulistas seriam desdobramentos previstos por seus pares paulistas?   

As inquietações relativas ao sentido das ações em Santa Catarina – se locais ou interestaduais, por exemplo – forjam poder para as próprias atividades criminosas, no que se refere à imagem, isto é, a representação dos crimes e criminosos. E esta posição simbólica é sentida em forma de receio pelo mercado turístico. Talvez por este motivo, o estado anunciou que não necessitará de forças federais para a contenção da crise.  Com este anúncio, o poder estadual pretende revelar a qualidade de suas forças públicas de segurança e, ao mesmo tempo, evidenciar a menor complexidade do problema em comparação com São Paulo. Como é possível observar, nem sempre é de bom augúrio receber recursos federais. Outro aspecto que sugere a tática de contenção do problema em seu domínio simbólico diz respeito ao discurso das fontes oficiais junto à mídia, no qual consideram que parte do problema está associada à criminalidade oportunista que passou a replicar os ataques a partir do modelo original que é atribuído à criminalidade organizada.
O governo paulista também resistiu, inicialmente, às ofertas federais e deu a este capítulo um claro tom de disputa política. Diferentemente de Santa Catariana, as autoridades insistiram na hipótese de que todas as ações contra quase cem policiais foram decididas e conduzidas pelo PCC. A tônica do discurso fica presa à ideia de uma resposta a ser dada contra o crime organizado sem o complementar compromisso com garantias de condições de trabalho consistentes para os policiais.

Enquanto isto os crimes habituais continuam em sua regularidade e à margem das manchetes nacionais. Assumem, assim, um lugar controverso de domesticação da ordem estabelecida, ganhando um cadinho de normalidade, estabilidade e falta de novidade: uma morte aqui, outra ali, outra mais adiante... Sempre jovem, sempre negro, sempre o mesmo morto. 


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