ITAPAGIPE NÃO EXISTE. ITAPAGIPE EXISTE
... e nunca, por assim dizer, existiu. Em tempos d'antanho, chegar a Itapagipe era bastante difícil, fosse a cavalo, charrete ou a carro-de-bois. Mais fácil, talvez, a pé. A embrionária península era dominada por mangues e arrebentações nem sempre calmas. Tanto quanto o que chamamos de Comércio foi, a exemplo de Itapagipe o resultado - bem sucedido até o momento - de insistentes aterros ao mar.
Basta dizer que, no hoje chamado Comércio, o mar quebrava na atual Rua Guindaste dos Padres, ao pé da encosta, da falha geológica.
O mar quando quebrava naquela, hoje extinta, praia ... era bonito.
Os padres jesuítas, através de guindastes, subiam e desciam mercadorias trazidas pelos barcos, puxando e soltando guindastes desde o Colégio (depois Faculdade de Medicina) situado no largo (escola a céu aberto de catequese de índios) depois chamado Terreiro de Jesus.
O mar batia na parte baixa do "adro" do prédio da Associação Comercial da Bahia e seu belo barroco inglês.
Pelo menos até os anos setenta, século XX, moradores de .Itapagipe se referiam à Cidade Alta como a cidade - como se Itapagipe não fora também Salvador. "Quando você vai à cidade?". "Você só compra isso na cidade ... lá ... nas Duas Américas" (Rua Chile)
Quantas vezes, caro leitor, você foi a Itapagipe neste agoniante e agonizante ano de 2015?
Precisa ir ... antes que se cumpra a profecia popular segundo a qual ... "um dia o mar da baía de Todos os Santos, zangado e vingativo, retomará tudo o que foi dele ... e isso inclui Itapagipe e o bairro do Comércio ..."
Nos noticiários matutinos da TV, apresentadore(a)s mostram como amanheceu Salvador hoje. E então aparecem cenas dos bairros da Pituba e Itaigara. "Vamos agora mostrar o trânsito hoje cedo na cidade"... aparecem cenas aéreas da Avenida Paralela. Eventualmente e quando o trânsito já começa o dia travado, nervoso, engarrafado (e aborrecendo meia cidade) , ainda mostram a Avenida Jequitaia ... e assim mesmo nem chegam aos Mares ... onde Itapagipe começa.
A Avenida Fernandes da Cunha (Itapagipe) exibiu (anos 50-60/ século passado) o primeiro prédio de 10 andares da capital baiana e de toda a Bahia: o Edifício Colón. Era atração digamos turística. Gente de toda a cidade e de todas as cidades iam ver pra crer e pra questionar se aquela coisa enorme não iria desabar.
A verticalização de Itapagipe parou "ahí y entonces" - homenageio a valorosa presença espanhola em Salvador. Mas isso não nos autoriza a pensar e a divulgar que lá não transitam ônibus e automóveis.
Itapagipe existe sim!
Nenhum comentário:
Postar um comentário