A LINGUAGEM VESTE O MUNDO (AINDA QUE ELE NUNCA TENHA ESTADO NU).
O NOME PRÓPRIO VESTE O RECÉM NASCIDO (AINDA QUE ELE NUNCA TENHA ESTADO NU). O CASO DO 'TIO CORREA'
Há quem diga, sem esconder uma certa ponta de rebeldia: "roupa nova para as festas de fim de ano para que? Eu nasci nu e (hoje) estou vestido(a)"
Não é bem assim, caro amigo, estimada amiga.
Antes de ser retirado(a) do ventre, o ser humano em flor já tem um ou vários nomes, uns ou várias vestes identitárias. Se for menino chamar-se-á João ou Jonas ... Se for menina o nome será Maria ou Mariana ou Maria Mariana. Etelvina? Scarlette Moon? Madonna? ...
E na imagem da primeira ultrassonografia ... às vezes a roupa / nome próprio ainda não está definida. Mas a roupa indicada por essa imagem já veste a imagem do pequeno ser: é menina; ou é menino ... a julgar pelo seu exibicionismo genital.
Seja lá como for, a veste identitária (o nome próprio) é costurada pelo exercício do desejo do Outro/letra "O" maiúscula (sociedade, cultura, normas da lei e exigências dos costumes) e do outro/letra "o" minúscula (pai, mãe, avó, demais parentes, vizinhos ... e outras gentes de carne-e-osso com número de CEP, CPF, Carteira de Identidade etc e tal).
'TIO CORREA'
Lembro que quando comecei a trabalhar no então e hoje esquecido e sepultado Maciel (Pelourinho), 1975. pela Fundação [hoje Instituto] do Patrimônio Artístico e Cultural da Bahia, a equipe de assistentes sociais encontrou um menino (dois/três anos) chamado "Tio Correa".. Todas as pessoas assim chamavam a criança. É que a mãe, sem muita inspiração para escolher um nome (João, Pedro, Antonio ...) deu tal nome ao filho porque, segundo ela, ele nasceu gordinho ... parecido com o Tio Correa que era o símbolo de uma loja de material de construção q ue então existia e se localizava no bairro do Comércio - Cidade Baixa. "Tio Correa" era a imagem de um que mostrava um pedreiro uniformizado gordinho, sorridente, simpático, bigode cheio ...
Claro que a criança não tinha Certidão de Nascimento. E as assistentes sociais pediram que a mãe escolhesse outro nome (de conformidade com os costumes) e assim o menino obteve, primeira vez na vida, este importante documento
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