domingo, 3 de março de 2013

DISCURSO ... / 8 - GUERRELHAS ... AMOR E DOR NA MPB (1)

DISCURSO AMOROSO URBANO/ 8


fonte - INBIO
Instituto de Neuropsicologia e Biofeedback

CONTINGÊNCIAS DE AMOR E DOR NÁ MÚSICA POPULAR BRASILEIRA
Fabiana GUERRELHAS,  e Maira Cantarelli   BAPTISTUSSI

 “Se chorei ou se sorri, o importante é que emoções eu vivi”
(Emoções - Roberto Carlos)

Uma obra de arte nos serve para diversas finalidades e pode cumprir vários papéis. Além de provocar sentimentos, despertar sensações e descrever as infinitas possibilidades de afetos e emoções, as músicas são manifestações artísticas que funcionam como ótimos recursos terapêuticos e ferramentas valiosas de aprendizagem.

Neste artigo, descreveremos algumas análises de músicas brasileiras que foram utilizadas em um processo terapêutico.
Antes mesmo de partirmos para uma análise conceitual de músicas e seu papel em um processo terapêutico é preciso relembrar um conceito muito importante. Como acabamos de mencionar, música está diretamente ligada à EMOÇÃO. Para Skinner (1989), emoções são vistas como comportamento emocional. Sendo comportamento, envolve necessariamente condições e fatores ambientais em sua determinação. Estão sempre relacionadas a ações que alteram as probabilidades de mudanças no ambiente e a determinados reflexos fisiológicos, sentidos como prazerosos ou desagradáveis. Algumas emoções básicas como raiva, medo e alegria podem ser analisadas a partir do paradigma respondente. Neste caso, evidenciam-se estímulos específicos e respostas por eles eliciadas. Mas não podemos descrever as emoções simplesmente através deste paradigma, ou seja, a complexidade dos comportamentos emocionais só será completamente entendida a partir do paradigma operante e para isto é preciso identificar: os eventos que antecedem as manifestações emocionais; as respostas fisiológicas que as acompanham e as conseqüências que seguem as respostas. Ou seja, as manifestações emocionais podem ser explicadas a partir do modelo de seleção por conseqüências (Zamignani & Banaco (2005); Guilhardi (2004); Skinner (1994); Darwich e Tourinho (2005).

Para ilustrar melhor a compreensão da emoção podemos usar como exemplo as relações afetivas que envolvem o que chamamos de amor. No caso do prazer a probabilidade é de aproximação e no caso da dor de amor, a maior tendência é de afastamento. É importante lembrar que esquemas de reforçamento intermitente fazem com que a necessidade de contato seja mantida, apesar do componente aversivo da relação. Nas interações relacionadas a emoções amorosas geralmente observamos o controle de contingências de reforçamento positivo, de modo que estas emoções incluem sentimentos de satisfação como a paixão:
 
“Existe, sem dúvida, um elemento reforçador no amor. Tudo o que os amantes fazem no sentido de ficarem juntos ou de evitarem a separação é reforçado por essas consequências, e é por isso que eles passam juntos a maior parte do tempo possível. (...) Eu te amo significa você me dá prazer ou me faz sentir bem”. (Skinner, 2006, pág 16)

Se estivermos nos referindo ao amor, falamos de disposição para ação, probabilidade de aproximação, presença de respondentes indicadores de prazer e bem estar. Numa relação de amor correspondido, são produzidos reforçadores como manifestação de afeto, atenção, cuidado e sensações físicas de muito prazer. 

Mas nem tudo são flores no terreno amoroso, principalmente quando o controle de estímulos muda, bem como as conseqüências. Quando o
amor acaba, os reforçadores perdem o poder e novas contingências entram em vigor. Começam a operar interações relacionadas a emoções dolorosas, predominando a ocorrência de sentimentos aversivos. Neste caso, podemos avaliar a situação através de contingências de controle aversivo, as quais envolvem impedimento, privação, perda e respondentes ligados a sofrimento como raiva, ira, tristeza e vazio, que acabam por provocar afastamento, e muitas vezes, gerando medo e ansiedade (produzidos por eventos aversivos). 

As emoções citadas acima são entendidas como tal a partir do paradigma respondente e operante e nomeadas numa comunidade verbal específica. Para a nomeação de uma emoção é feito um treino de tatos de eventos privados de forma semelhante ao treino de tatos de eventos públicos (Borloti et al, 2009). A aprendizagem dos tatos de eventos privados é fundamental para um indivíduo no sentido de que ele conheça o que sente e em qual contexto, de modo a poder alterar o que é sentido. Um cliente chega à terapia, emitindo dentre vários comportamentos verbais, os tatos de eventos privados, o que permite ao terapeuta compreender os sentimentos básicos vivenciados por aquela pessoa, tanto de amor como de dor.

 
Quando um cliente procura a ajuda de um terapeuta, ele basicamente relata parte do que compõe a emoção, priorizando muitas vezes a descrição dos sentimentos e eventos encobertos. É nosso papel ir além desta descrição e avaliar todos os elementos ambientais, antecedentes e conseqüentes, públicos e encobertos, históricos e atuais, verbais e não verbais responsáveis pela determinação e manutenção das emoções descritas. 

A terapia objetiva desenvolver estratégias para interferir nestas interações, para que elas deixem de produzir sofrimento, ou que ao menos, produzam menos dor. Sendo assim, a aprendizagem de novas maneiras de se relacionar com o mundo físico e social, através de procedimentos terapêuticos deverá promover mudanças que proporcionarão bem estar e qualidade de vida. 

Os procedimentos desenvolvidos pela Análise do Comportamento para atingir este objetivo, envolvem predominantemente a interação verbal entre cliente e terapeuta. Ou seja, as ações do terapeuta são possíveis estímulos discriminativos e reforçadores relacionados aos comportamentos do cliente, e os comportamentos do cliente, por sua vez, selecionam e alteram as ações do terapeuta. Cliente e terapeuta fazem parte de uma comunidade verbal, na qual o comportamento de um interage com e determina o comportamento do outro. Além disso, parte importante do processo terapêutico envolve ensinar ao cliente as relações de determinação do seu comportamento, ajudando-o a testar novas alternativas de ação, produzindo assim novas conseqüências e a ampliação de seu repertório comportamental.
“Quanto ao manejo dos sentimentos e emoções no processo clínico, o objetivo principal do terapeuta é o de ajudar seus clientes a ENTRAR EM CONTATO COM AS VARIÁVEIS CONTROLADORAS de seus comportamentos” (Meyer, 2001, pág. 187)
Trabalhar com exemplos de música popular brasileira foi a estratégia utilizada no atendimento de uma mulher de 40 anos, profissional liberal, mãe de 2 filhos, durante o processo de separação. Entre namoro e casamento, a relação durou 25 anos. Ela procurou a terapia antes mesmo do término com o objetivo de expressar melhor seus sentimentos (sic). Logo de início, ficou evidente o déficit em seu repertório de tatos de eventos privados. 

Os objetivos terapêuticos delineados foram: desenvolvimento de repertório de descrição de sentimentos através da ampliação do autoconhecimento e do repertório de autocontrole, melhor manejo da relação conjugal, questionamento de regras rígidas apresentadas por ela, de modo a proporcionar contato com novas contingências.
Para que estes objetivos fossem atingidos e como forma de criar uma “intervenção reforçadora” para a cliente foram utilizadas análises de músicas no decorrer das sessões. Estas eram selecionadas e sugeridas pela própria terapeuta e serviram como estímulos para evocar emoções e ilustrar relações de contingências vividas por ela. 

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