Salvador - Bahia - BrasilLeitura de fatos violentospublicados na mídiaAno 12, nº 13,03/09/2012 | |
ELEIÇÕES:
QUANDO O FUTURO PROMETIDO CHEGAR
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As promessas voltaram em forma de slogan.
Um nome, um número e uma frase é o que se tem no cardápio básico da
disputa política em nível municipal. Enquanto isso, no plano federal se
assiste ao julgamento do mensalão. E tudo se passa ao tempo em que o
caso Carlos Cachoeira mantém a atenção pública intrigada com o
transbordamento de novidades “capitulares”.
Os
candidatos ao pleito municipal têm agenda diária publicada na mídia que
dão conta de visitas, reuniões, encontros, abraços, enlevadas
declarações sobre as suas infâncias, seus pais, avós, amigos dos tempos
de ontem, quando a cidade era calma. Enquanto isso, muitos eleitores
passam pelos seus dias de algozes e vítimas, cumprindo agendas em
delegacias, cancelando cartões de crédito, fazendo exames de corpo de
delito, sentindo-se incomunicável depois do roubo do celular, fugindo da
polícia, fingindo ser polícia, sendo preso, morto, entrevistado,
comprando grades, alarmes, seguros...
Carros de som seguem pelas ruas com seus hits que
anunciam que a cidade “será”, basta apertar um número e confirmar. Um
comício, um adesivo novo, entre cartazes espalhados por todos os lados,
tal como os engarrafamentos e buracos, dão conta de que as eleições
estão chegando e que, mesmo misturadas às últimas liquidações de inverno
anunciadas pelo comércio, têm lá o seu diferencial: elas proclamam uma
cidade próxima futura.
A
mensagem publicitária relativa às eleições tem, por natureza, a
necessidade de fazer crer no futuro prometido e a disputa pelo sucesso
desta crença é a base para a mobilização de estratégias. Na presente
campanha, nenhum candidato promete continuidade, com isto fica implícita
a impressão de que o eleitor previsto pelos anúncios exige mudanças.
Neste sentido, os concorrentes têm em comum a adesão em torno de um novo
projeto de cidade e a questão relativa à escolha fica em torno das
diferenças entre os projetos.
A
cidade prometida é passado – aquele tempo, aquela calma, aquela
alegria, aquela orla – e futuro – o novo trânsito, a nova
infraestrutura, a nova economia, o novo transporte coletivo. Enquanto
isso, o jornal A Tarde noticia, em 25 de agosto de 2012, que “Salvador
perde serviço de academia 24 horas”. Trata-se de um serviço particular,
localizado no bairro da Pituba que não teria logrado êxito comercial em
razão da “falta de hábitos noturnos e da insegurança dos moradores”.
É
sugestiva a soma de escassez de “hábitos noturnos” com a insegurança.
Quantos restaurantes já sofreram assaltos? Quantas histórias de
sequestros foram verificadas nas madrugadas? Qual é o significado da
noite soteropolitana nos dias atuais? O que farão os vencedores do
próximo pleito para que a noite seja um tempo de vida coletiva? O que
será feito dos cantos que estão às escuras?
Como
ficará a vida de professores e alunos que vão às escolas municipais dos
bairros mais pobres com medo dos “hábitos noturnos”? Como ficarão os
serviços de assistência à saúde pública nas noites das comunidades mais
desguarnecidas? Enfim, como “será” quando a vitoriosa promessa de futuro
presente for?
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