quarta-feira, 12 de setembro de 2012

FCCV - ELEIÇÕES: QUANDO O FUTURO PROMETIDO CHEGAR



 

 

Salvador - Bahia - Brasil

 

Leitura de fatos violentos

 publicados na mídia

Ano 12, nº 13, 

03/09/2012 

ELEIÇÕES: 
QUANDO O FUTURO PROMETIDO CHEGAR

As promessas voltaram em forma de slogan. Um nome, um número e uma frase é o que se tem no cardápio básico da disputa política em nível municipal. Enquanto isso, no plano federal se assiste ao julgamento do mensalão. E tudo se passa ao tempo em que o caso Carlos Cachoeira mantém a atenção pública intrigada com o transbordamento de novidades “capitulares”.

Os candidatos ao pleito municipal têm agenda diária publicada na mídia que dão conta de visitas, reuniões, encontros, abraços, enlevadas declarações sobre as suas infâncias, seus pais, avós, amigos dos tempos de ontem, quando a cidade era calma.  Enquanto isso, muitos eleitores passam pelos seus dias de algozes e vítimas, cumprindo agendas em delegacias, cancelando cartões de crédito, fazendo exames de corpo de delito, sentindo-se incomunicável depois do roubo do celular, fugindo da polícia, fingindo ser polícia, sendo preso, morto, entrevistado, comprando grades, alarmes, seguros...
Carros de som seguem pelas ruas com seus hits que anunciam que a cidade “será”, basta apertar um número e confirmar. Um comício, um adesivo novo, entre cartazes espalhados por todos os lados, tal como os engarrafamentos e buracos, dão conta de que as eleições estão chegando e que, mesmo misturadas às últimas liquidações de inverno anunciadas pelo comércio, têm lá o seu diferencial: elas proclamam uma cidade próxima futura.
A mensagem publicitária relativa às eleições tem, por natureza, a necessidade de fazer crer no futuro prometido e a disputa pelo sucesso desta crença é a base para a mobilização de estratégias. Na presente campanha, nenhum candidato promete continuidade, com isto fica implícita a impressão de que o eleitor previsto pelos anúncios exige mudanças. Neste sentido, os concorrentes têm em comum a adesão em torno de um novo projeto de cidade e a questão relativa à escolha fica em torno das diferenças entre os projetos.
A cidade prometida é passado – aquele tempo, aquela calma, aquela alegria, aquela orla – e futuro – o novo trânsito, a nova infraestrutura, a nova economia, o novo transporte coletivo. Enquanto isso, o jornal A Tarde noticia, em 25 de agosto de 2012, que “Salvador perde serviço de academia 24 horas”. Trata-se de um serviço particular, localizado no bairro da Pituba que não teria logrado êxito comercial em razão da “falta de hábitos noturnos e da insegurança dos moradores”.
É sugestiva a soma de escassez de “hábitos noturnos” com a insegurança. Quantos restaurantes já sofreram assaltos? Quantas histórias de sequestros foram verificadas nas madrugadas? Qual é o significado da noite soteropolitana nos dias atuais? O que farão os vencedores do próximo pleito para que a noite seja um tempo de vida coletiva? O que será feito dos cantos que estão às escuras?

Como ficará a vida de professores e alunos que vão às escolas municipais dos bairros mais pobres com medo dos “hábitos noturnos”? Como ficarão os serviços de assistência à saúde pública nas noites das comunidades mais desguarnecidas? Enfim, como “será” quando a vitoriosa promessa de futuro presente for?


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