terça-feira, 4 de setembro de 2012

RESTAURANTE DE 1882 ADERE AO MICRO-ONDAS - RECIFE -PERNAMBUCO

e - A TARDE ON LINE, Salvador - Bahia - Brasil]
Dom , 22/07/2012 às 11:06 | Atualizado em: 22/07/2012 às 15:20

Restaurante mais velho do País 

adere ao micro-ondas

Agência Estado
O mais antigo restaurante do Brasil, 
o Leite, no Recife, carrega o peso da história. 
Fundado em 1882, acaba de completar 130 
anos de tradição detalhista. O palito de dentes,
 por exemplo, é feito à mão em um convento de 
Portugal. O rótulo da garrafa de água 
mineral traz reprodução do azulejo português 
da fachada. As cadeiras de jacarandá 
são quase centenárias, as bandejas são 
de prata, os guardanapos, de puro algodão.


Clientes ilustres, como embaixadores 
e ministros, são servidos com garfo e
 faca de prata franceses. As chaleiras, no
 entanto, foram aposentadas com a chegada
 do primeiro micro-ondas.

O equipamento chegou ao restaurante faz três
 meses, mas não se iluda que pratos
cuidadosamente preparados pelo chef de
cozinha passem pelo aparelho. A equipe do
Leite garante que o micro-ondas é usado
apenas para esquentar água e para derreter
 o chocolate para a elaboração de sobremesas.

Aliás, o micro-ondas não é a única novidade
tecnológica que contrasta com as "relíquias"
do passado do Leite. Recentemente, o restaurante
 também adquiriu uma máquina de lavar louça e
um forno Rational alemães, que "só faltam falar",
 como costuma dizer o chef Edmilson Araújo Chaves,
 de 52 anos, o "Bigode". "São os detalhes",
garante o proprietário, o português de 81 anos
Armênio Ferreira Diogo Dias, "que fazem a
diferença e tornam o restaurante único".

Nasa

No Leite, que funciona de domingo a sexta-feira
no almoço, o piano de cauda começa a
ser tocado religiosamente às 12h30 para a
clientela que ocupa as 36 mesas em um salão
livre de cheiro e barulho. O novo sistema
 central de refrigeração da casa tem tecnologia
 da Nasa para purificação do ar, o que
elimina a contaminação do ambiente por qualquer
 aroma de alimento.

A acústica recebeu novo tratamento na
última grande reforma - realizada há três anos
 - e, desde então, o teto de treliça e as paredes
acolchoadas permitem conversas tranquilas mesmo
com o salão cheio.

"Queremos cada cliente tratado com carinho",
diz Dias, ao lembrar, com satisfação, o elogio
 de um visitante que disse ter ficado muito satisfeito
 com a comida, o vinho e o ambiente. "O Leite
não é um restaurante qualquer", orgulha-se
 ele. "O restaurante não é meu, é da sociedade;
eu cumpro a minha função", afirma ele,
dedicado ao estabelecimento desde a sua
aquisição, em 1956, quando chegou ao Brasil
com seus irmãos.

Na época, o Leite estava falido e Dias
o recuperou, mantendo as características
clássicas, de requinte e sobriedade que o
marcam desde a sua fundação, quando criado por
 um outro português, Manuel Leite.
Personalidades. A nata da política e do
empresariado se mantém fiel ao local, por
onde já passaram presidentes como Juscelino
 Kubitschek e Jânio Quadros e o ex-presidente
 Lula. O sociólogo Gilberto Freyre era frequentador
 assíduo e batizou um prato, o medalhões à
Gilberto Freyre. Sentava sempre na mesa 19,
onde acendia seu charuto e tomava café com licor.

Cheio de histórias, Dias relembra ter quebrado
um tabu ao receber mulheres sozinhas - em
1958, ele ousou atender duas senhoras
desacompanhadas - e também vivenciou
 resquícios deixados pela escravidão.
Um funcionário negro certa vez lhe beijou a
 mão em sinal de subserviência. "Me espantei,
 não sabia o que era aquilo", relatou, ao garantir
que o gesto nunca mais se repetiria.

Por sua relevância na história de Pernambuco e
 do Brasil, o Leite ganhou um capítulo no livro
A Saga do Açúcar, da antropóloga Fátima
Quintas. Ela destaca que o restaurante nasceu
 em um momento revolucionário - fim do Império
 e da Monarquia, abolição da escravatura,
 início da República.

"Sua história é importante porque nela se
conjugam dois fenômenos aparentemente opostos:
 os fortes ecos de uma mutação política e o
respeito à tradição cultural em uma época em
que não foi fácil sustentar os paradigmas do passado",
diz a escritora. As informações são do jornal O Estado
 de S. Paulo.

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