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Dom , 22/07/2012 às 11:06 | Atualizado em: 22/07/2012 às 15:20
Restaurante mais velho do País
adere ao micro-ondas
Agência Estado
O mais antigo restaurante do Brasil,
o Leite, no Recife, carrega o peso da história.
Fundado em 1882, acaba de completar 130
anos de tradição detalhista. O palito de dentes,
por exemplo, é feito à mão em um convento de
Portugal. O rótulo da garrafa de água
mineral traz reprodução do azulejo português
da fachada. As cadeiras de jacarandá
são quase centenárias, as bandejas são
de prata, os guardanapos, de puro algodão.
o Leite, no Recife, carrega o peso da história.
Fundado em 1882, acaba de completar 130
anos de tradição detalhista. O palito de dentes,
por exemplo, é feito à mão em um convento de
Portugal. O rótulo da garrafa de água
mineral traz reprodução do azulejo português
da fachada. As cadeiras de jacarandá
são quase centenárias, as bandejas são
de prata, os guardanapos, de puro algodão.
Clientes ilustres, como embaixadores
e ministros, são servidos com garfo e
faca de prata franceses. As chaleiras, no
entanto, foram aposentadas com a chegada
do primeiro micro-ondas.
e ministros, são servidos com garfo e
faca de prata franceses. As chaleiras, no
entanto, foram aposentadas com a chegada
do primeiro micro-ondas.
O equipamento chegou ao restaurante faz três
meses, mas não se iluda que pratos
cuidadosamente preparados pelo chef de
cozinha passem pelo aparelho. A equipe do
Leite garante que o micro-ondas é usado
apenas para esquentar água e para derreter
o chocolate para a elaboração de sobremesas.
meses, mas não se iluda que pratos
cuidadosamente preparados pelo chef de
cozinha passem pelo aparelho. A equipe do
Leite garante que o micro-ondas é usado
apenas para esquentar água e para derreter
o chocolate para a elaboração de sobremesas.
Aliás, o micro-ondas não é a única novidade
tecnológica que contrasta com as "relíquias"
do passado do Leite. Recentemente, o restaurante
também adquiriu uma máquina de lavar louça e
um forno Rational alemães, que "só faltam falar",
como costuma dizer o chef Edmilson Araújo Chaves,
de 52 anos, o "Bigode". "São os detalhes",
garante o proprietário, o português de 81 anos
Armênio Ferreira Diogo Dias, "que fazem a
diferença e tornam o restaurante único".
tecnológica que contrasta com as "relíquias"
do passado do Leite. Recentemente, o restaurante
também adquiriu uma máquina de lavar louça e
um forno Rational alemães, que "só faltam falar",
como costuma dizer o chef Edmilson Araújo Chaves,
de 52 anos, o "Bigode". "São os detalhes",
garante o proprietário, o português de 81 anos
Armênio Ferreira Diogo Dias, "que fazem a
diferença e tornam o restaurante único".
Nasa
No Leite, que funciona de domingo a sexta-feira
no almoço, o piano de cauda começa a
ser tocado religiosamente às 12h30 para a
clientela que ocupa as 36 mesas em um salão
livre de cheiro e barulho. O novo sistema
central de refrigeração da casa tem tecnologia
da Nasa para purificação do ar, o que
elimina a contaminação do ambiente por qualquer
aroma de alimento.
no almoço, o piano de cauda começa a
ser tocado religiosamente às 12h30 para a
clientela que ocupa as 36 mesas em um salão
livre de cheiro e barulho. O novo sistema
central de refrigeração da casa tem tecnologia
da Nasa para purificação do ar, o que
elimina a contaminação do ambiente por qualquer
aroma de alimento.
A acústica recebeu novo tratamento na
última grande reforma - realizada há três anos
- e, desde então, o teto de treliça e as paredes
acolchoadas permitem conversas tranquilas mesmo
com o salão cheio.
última grande reforma - realizada há três anos
- e, desde então, o teto de treliça e as paredes
acolchoadas permitem conversas tranquilas mesmo
com o salão cheio.
"Queremos cada cliente tratado com carinho",
diz Dias, ao lembrar, com satisfação, o elogio
de um visitante que disse ter ficado muito satisfeito
com a comida, o vinho e o ambiente. "O Leite
não é um restaurante qualquer", orgulha-se
ele. "O restaurante não é meu, é da sociedade;
eu cumpro a minha função", afirma ele,
dedicado ao estabelecimento desde a sua
aquisição, em 1956, quando chegou ao Brasil
com seus irmãos.
diz Dias, ao lembrar, com satisfação, o elogio
de um visitante que disse ter ficado muito satisfeito
com a comida, o vinho e o ambiente. "O Leite
não é um restaurante qualquer", orgulha-se
ele. "O restaurante não é meu, é da sociedade;
eu cumpro a minha função", afirma ele,
dedicado ao estabelecimento desde a sua
aquisição, em 1956, quando chegou ao Brasil
com seus irmãos.
Na época, o Leite estava falido e Dias
o recuperou, mantendo as características
clássicas, de requinte e sobriedade que o
marcam desde a sua fundação, quando criado por
um outro português, Manuel Leite.
o recuperou, mantendo as características
clássicas, de requinte e sobriedade que o
marcam desde a sua fundação, quando criado por
um outro português, Manuel Leite.
Personalidades. A nata da política e do
empresariado se mantém fiel ao local, por
onde já passaram presidentes como Juscelino
Kubitschek e Jânio Quadros e o ex-presidente
Lula. O sociólogo Gilberto Freyre era frequentador
assíduo e batizou um prato, o medalhões à
Gilberto Freyre. Sentava sempre na mesa 19,
onde acendia seu charuto e tomava café com licor.
empresariado se mantém fiel ao local, por
onde já passaram presidentes como Juscelino
Kubitschek e Jânio Quadros e o ex-presidente
Lula. O sociólogo Gilberto Freyre era frequentador
assíduo e batizou um prato, o medalhões à
Gilberto Freyre. Sentava sempre na mesa 19,
onde acendia seu charuto e tomava café com licor.
Cheio de histórias, Dias relembra ter quebrado
um tabu ao receber mulheres sozinhas - em
1958, ele ousou atender duas senhoras
desacompanhadas - e também vivenciou
resquícios deixados pela escravidão.
Um funcionário negro certa vez lhe beijou a
mão em sinal de subserviência. "Me espantei,
não sabia o que era aquilo", relatou, ao garantir
que o gesto nunca mais se repetiria.
um tabu ao receber mulheres sozinhas - em
1958, ele ousou atender duas senhoras
desacompanhadas - e também vivenciou
resquícios deixados pela escravidão.
Um funcionário negro certa vez lhe beijou a
mão em sinal de subserviência. "Me espantei,
não sabia o que era aquilo", relatou, ao garantir
que o gesto nunca mais se repetiria.
Por sua relevância na história de Pernambuco e
do Brasil, o Leite ganhou um capítulo no livro
A Saga do Açúcar, da antropóloga Fátima
Quintas. Ela destaca que o restaurante nasceu
em um momento revolucionário - fim do Império
e da Monarquia, abolição da escravatura,
início da República.
do Brasil, o Leite ganhou um capítulo no livro
A Saga do Açúcar, da antropóloga Fátima
Quintas. Ela destaca que o restaurante nasceu
em um momento revolucionário - fim do Império
e da Monarquia, abolição da escravatura,
início da República.
"Sua história é importante porque nela se
conjugam dois fenômenos aparentemente opostos:
os fortes ecos de uma mutação política e o
respeito à tradição cultural em uma época em
que não foi fácil sustentar os paradigmas do passado",
diz a escritora. As informações são do jornal O Estado
de S. Paulo.
conjugam dois fenômenos aparentemente opostos:
os fortes ecos de uma mutação política e o
respeito à tradição cultural em uma época em
que não foi fácil sustentar os paradigmas do passado",
diz a escritora. As informações são do jornal O Estado
de S. Paulo.
CO
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