O DESEJO COMO BARRADURA AO GOZO
Só para trocar em miúdo dos miúdos:
1 - Tomando do empréstimo a frase de Caetano Veloso "Cada um sabe a dor e a delícia de ser o que é" ("Dom de Iludir"), cometo a criação de um neologismo: DORDELÍCIA. Gozo é dordelícia.
2 - Maria Gozolinda (nome fictício) não consegue se relacionar com homens solteiros ou sem outros compromissos afetivo-conjugais. Já está segura de que não se trata de encosto, ou dívida kármica. A dor é não poder prolongar ad infinitum aqueles minutos de prazer com seu amado amante porque ele tem que levar a esposa ao salão de beleza ou o filho ao karatê. A delícia é a satisfação da sede de viver tudo, no 'corpo bomba' pode tudo, nos momentos íntimos com ele. Delícia também é se sentir vitoriosa sobre a esposa dele, mesmo - e talvez porisso mesmo - sendo a 'outra' na vida dele.
Um dia, porém, ela 'cai em si' e se pergunta:' por que eu só me envolvo com homens casados? ''Será sempre assim?' 'Será que não posso mudar ... tantos solteiros por aí?'
O desejo de mudar questiona e até pode barrar o seu tão antigo e repetitivo gozo. O desejo de mudar instala uma falta na ilusória plenitude e completude de seu gozo; esse desejo 'fura' o balão super inflado de seu gozo.
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