segunda-feira, 28 de setembro de 2015

O RÉGIMEN  (REGIME) NOTURNO DO AMOR NA VELHA GUARDA DA MPB
 
Por que a noite nos seduz tanto? Por que ela guarda tantos mistérios?
 
Por que  no instante do nosso nascimento, choramos tanto não só pelo furacão que nos invade os pulmões, mas especialmente porque o régimen solar do dia  ou a luz da sala de parto ou do centro cirúrgico vem nos roubar a noite e  o régimen noturno de 8 meses ao longo de  nossa uterina vida (?).  Berrando, não lemos Nietzsche ainda e já estamos a odiar  quem nos rouba a solidão e não nos dá nada em troca.
 
Por que se A convida B para almoçar este convite tem um significado em princípio de amizade “pura”, busca de ombro amigo ... . Porém se o convite é para jantar  ...  dizemos  AÍ TEM ... enxergamos aí  uma suspeita, um dizer-não-dito?  Mas esse AÍ TEM pode muito bem estar presente ao meio dia, no almoço. Mas, noite é noite; e a noite é uma criança – costumamos dizer e cantar só para encantar. E sonhar com a eternidade das delícias noturnas que estão por vir. Agora ou no porvir.
 
À noite, se o amor é feliz temos uma noite feliz – “a noite do meu bem” - ainda que não seja Natal.
 
Se o amor é infeliz ou está infeliz ,  tudo é mais difícil, parece ter menos saídas. E a solidão ... se vem acompanhada da chuva .. chove lá fora e esta saudade enjoada não se manda, não vai embora.
Na velha guarda da MPB, existe uma verdadeira coleção de letras (e melodias) que falam do desencanto, da busca inútil de amores sofridos. E também, claro, de como a noite nos brinda com o melhor dos vinhos, com o mais caro champagne.
 
 Nelson Cavaquinho (1911-1986) – Duas horas da manhã
“Duas  horas da manhã,
Contrariado espero pelo meu amor
Vou subindo morro sem alegria
Esperando que amanheça o dia”
 
Lupicínio Rodrigues (1914-1974) – Volta
“Quantas  noites não durmo
A rolar-me na cama,
A sentir tantas coisas,
Que a gente não pode explicar
Quando  ama”
 
Silvio Caldas (1908-1998) – Chão de Estrelas
“A  porta do barraco
Era sem trinco
E a lua furando nosso zinco
Salpicava de estrelas
O nosso chão ...
Tu pisavas  nos astros distraída”
 
Dolores Duran (1930-1959) – A noite do meu bem
“Hoje eu  quero a rosa mais linda que houver
E a primeira estrela que vier
Para enfeitar  a noite do meu bem”
 
Paulo Vanzolini (1924- 2013) – Ronda
“De noite eu  rondo a cidade
A lhe procurar sem encontrar
No meio de olhares espio
Em todos  os bares você não está,”
 
Adoniran Barbosa (1910-1982) -  Trem das onze
“Não  posso ficar nem mais um minuto com você
Sinto muito amor, mas não pode ser
Moro em Jaçanã,
Se eu perder esse trem
Que sai agora às onde horas
Só amanhã de manhã.
 
Chiquinha Gonzaga (1847-1915) – Lua branca
“Oh!  Lua branca de fulgores e de encantos
Se  é verdade que ao amor tu dás abrigo
Vem  tirar dos olhos o meu pranto”
 
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