sábado, 5 de setembro de 2015

LAGUNA, IPHAN E MEMÓRIA URBANA - D GANZELEVITCH

LAGUNA, IPHAN E MEMÓRIA URBANA

 

Dimitri Ganzelevitch



[jornal "A Tarde" - Salvador - Bahia - Brasil, 5 de set 2015, p. A2]







 Convidado pela Universidade Federal de Santa Catarina para o seminário “2° memória urbana”, organizado pela Faculdade de Arquitetura, tive a oportunidade de conhecer a bonita cidade de Laguna e a difícil tarefa de falar do fracasso que foram estes 30 anos de “reabilitação” do centro histórico de Salvador. 



Estabeleci, logo de entrada, um paralelo entre Salvador e Cartagena de Índias, ambas tombadas em 1985. Não escondi nada da leviandade das autoridades em se tratando de um patrimônio definido como sendo da humanidade pela UNESCO a pedido – não esqueçamos - do governo brasileiro. Desde a retirada das pedras portuguesas até a derrubada dos 31 casarões passando pelo desprezo ao ser humano, os 1500 imóveis vazios, nossa campanha “Aqui podia morar gente”, o abandono da igreja de São Francisco, com seu pátio e azulejos barrocos, o arruinamento do cinema-teatro Jandaia, as fachadas pintadas com cores berrantes sem qualquer pesquisa, parecendo propaganda de pintura acrílica – mostrei como Veneza tratava do assunto - a agressão sonoro-sísmica dos shows no Pelourinho, minha palestra evidenciou a criminosa incúria de nossos gestores. 



Na verdade, ninguém, entre os respeitáveis historiadores/arquitetos convidados, se surpreendeu com as denúncias, sempre comprovadas por fotografias. A incompetência da Dircas/Conder, as omissões coniventes e outros desmandos do IPHAN/Bahia já eram conhecidos de todos. Soube até de uma comissão de inquérito do ICOMOS que deve, em breve, vir de Brasília para avaliar a gravíssima situação da memória material de Salvador. 



Falei de meu projeto de mandar à UNESCO um relatório pessoal sobre a longa agonia de nosso centro histórico, mesmo sabendo da anterior denúncia do Instituto dos Arquitetos da Bahia. A situação está chegando a tal nível de degradação que todo e qualquer cidadão consciente tem a obrigação de se manifestar, se opondo a tamanha leviandade.


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