COMPANHEIROS IMIGRANTES SIRIOS, QUEM TEM FÉ VAI A PÉ
Para Gilberto Gil e Milton Nascimento
Existe um reducionismo ululante em aprisionar o "Quem tem fe vai a pe" de Gil ao cortejo da Lavagem do Bomfim (Salvador - Bahia - Brasil). "Quem tem fé vai a pé" se 'aplica' aos cortejos deste mundo- vasto-mundo empurrados pela fé .... a exemplo da onda de imigrantes sÍRios que marcham nesse instante sobre a Europa..
Cá da minha cadeira e depois do café da manhã, ouso chamá-los de companheiros imaginando que sou perdoado por estar preso ao sentido ancestral da palavra COMPANHEIRO. COM+PANHEIROS = aquele(a)s que COMEM juntos o mesmo PÃO. Não so o pão feito de trigo ou centeio, mas também aquele preparado com sangue, suor, lágrimas e identidade afetiva e ideológica. Ao ler, escrever ou chorar sobre o drama dos imigrantes sírios nos tornamos seus com+panheiros.
"Quem tem fé vai a pé" abraça a condição de quem tem fe. E não de quem reles crença em alguém. Em alguma crença ideológica. Até porque "a fé não costuma faiá (falhar)". Até porque, também, a fé tem um único endereço: deus, orixá, ser supremo ... Diferente de crença que segue na direção do ser humano; aí sim pode haver falha e erro de avaliação (ou não!)
Podemos nos decepcionar com o político, namorado ou o cônjuge em quem sempre acreditamos. Mas na (verdaeira) fé - aquela que é capaz de remover montanhas - não há espaço para falhas ou defeitos. Deus não falha porque é perfeito. Já os prefeitos ....
Nossos companheiros, os imigrantes sírios nos tiram do comodismo da cadeira, do café da manhã e da dúvida atroz que nos faz sofrer e contar as moedas: em que restaurante almoçaremos neste fim de semana: no quilo ou naquele?
Os imigrantes sírios nos mobilizam e nos incomodam, a nós cá, porque (eles lá) não perderam "a estranha [e saudável] mania de fé na vida". Essa estranha e saudável mania que nós cá, nas cadeiras e nas poltronas ocidentais estamos perdendo a cada expiração.
Não creio que eles creiam tanto nos políticos europeus, americanos e mesmo nas famílias do lado de cá.- exércitos de gentes bem intencionadas.
Os imigrantes sírios lá, são ee stão turbinados pela fé e estão andando a pé sobre o mar e sobre a terra mesmo quando estão socados dentro dos navios, caminhões ou vagões. Diz o Novo Testamento (Bíblia) que Cristo teria caminhado a pé sobre as águas do mar. Se não tivesse fé no Pai, Ele teria precisado urgentemente de um barco.
Permanecer na Síria 'pra o que desse e viesse' teria sido andar com as muletas da razão e dentro das carruagens da razão.. Mas - perdoem-me as heresias contra as religiões e as normas cultas da 'úlima flor do Lácio inculta e bela': a fé é tão irmã siamesa da loucura que - rogo-lhes clemência - invento um neologismo: FELOUCURA.
A razão (a ciência, a filosofia, a arte) é da ordem da dúvida. Quando, no interior do Nordeste, ouvimos uma 'voz ' nos chamar, a nos chamar pelo nosso nome .. ou duvidamos e dizemos "tá em Roma, tá em Roma, tá em Roma" ... ou podemos até surtar acreditando que essa 'voz' pode, a curto e médio prazos, nos dizer ou nos mandar fazer muitas coisas ... coisas que até Deus duvida. Andarilho e aos trapos, um psicótico que tem certeza que é Napoleão Bonaparte .... não há como demovê-lo, fazê-lo migrar (para os continentes da razão) desse lugar de certeza.
"Quem tem fé vai a pé" porque mesmo dentro do avião, automóvel, metrô ou navio, bike ... ou mesmo a pé ...quem tem (realmente) fé está sempre a pé pois não precisa viajar dentro destes veículos da razão: ciência, filosofia, avião, arte, automóvel, sapato, metrô ou navio, bike, pé ....
Defendo que os imigrantes sírios são empurrados pela fé.. Em que deus talvez nem eles nem nós saibamos. E nem carecemos - eles lá e nós cá - de saber.
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