FUTUCANDO A MORTE COM O PAU CURTO DA SELFIE

FUTUCANDO A MORTE COM O PAU CURTO DA SELFIE

 

A selfie é tataraneta do daguerrótipo (foto abaixo)

 

Gente, por favor, os idosos têm preferência.

 

O daguerrótipo foi inventado por Daguerre (séc. XIX) e, em "Cem Anos de Solidão", (Gabriel Garcia Marquez)  apareceu em Macondo como a grande novidade tecnológica. Mas, naquele povoado, nem todos se deixavam fotografar.. O cigano por exemplo temia que sua alma ficasse aprisionada na imagem inpressa na placa de lítio. E um corpo sem a alma é um corpo morto.

 

Barthes ("A câmara clara") alertava .... cuidado com  os fotógrafos que estão por aí pelo mundo a fazer fotos: eles são agentes da morte.. A fotografia registra e prende nossa imagem e cenas anexas a tal ponto que aqueles infinitésimos de segundo da cena fotografada e  do rosto fotografado jamais se repetirão. Nem aqui, nem no limbo e nem no pós limbo

 

Antes de Barthes, Heráclito assegurava: "sobre os que mergulham passam diferentes águas".. Traduzindo para o brasileirês, ninguém mergulha duas vezes nas mesma águas do  mesmo rio, lago, piscina ou mar. Você mergulha AGORA; num segundo mergulho aquela água já não é mais a mesma..

 

O presente é tão fugidio que - como se fosse uma gota da substância química mercúrio (Hg) - não conseguimos detê-lo entre nossas mãos e dedos  Na Astrologia, Mercúrio é o planeta regente dos geminianos. E assim ela explica porque eles são tão volúveis, duplos, instáveis, e gostam de fazer duas coisas diferentes ao mesmo tempo. Hermes ou Mercúrio é o deus do Comércio. Daí o que faz a alegria do comerciante é o vai-e-vem de mercadorias.

 

Com daguerrótipo, lambe-lambe ,polaroide,  ou selfie ... fotografar é matar. Matar talvez impunemente. Gostamos de fotografar porque gostamos de matar .... matar aquele micro tempo (que não sobreveirá - digo - que não se repetirá nem agora/já, nem no limbo e nem no pós limbo.

 

A foto/fotografia e a morte nos fascinam. A mamãe, orgulhosa, mostra aos avós, tios e amigos a foto que seu filho tirou na escola. E todos, mesmo com a criança presente, sob seus narizes e olhos, prestam mais atenção à foto do que à criança vivinha da silva diante de todos e por todos desprezada .... deixada de lado ... por alguns minutos infinitos de eternidade  enquanto durar a contemplação. E os elogios (falsos ou verdadeiros) da  da foto. que meninnho mais lindo ...! - sem tirar os olhos da foto.

 

Futucamos a morte com o pau curto da selfie.. E, primos ricos, nos fotografamos no hotel de luxo em Salvador ou Dubai e enviamos a foto de nossa face (cenário paradisíaco ao fundo) através do face para dizer, sem dizer, ao primo pobre que está cavando o chão com a enxada lá no povoado de Deus Me Livre: "eu estou aqui, você não está! kkkkk)

 

O primo pobre, enxugando o suor com  as costas da mão murmura: "nada como um dia depois do outro"