sábado, 22 de agosto de 2015

O CIRCUITO DO DESEJO NA ALIMENTAÇÃO, NA NUTRIÇÃO E NA DIETA

O CIRCUITO DO DESEJO NA ALIMENTAÇÃO, NA NUTRIÇÃO E NA DIETA



O ser humano é o único animal (primata, mamífero e vertebrado que é) 
do desejo; os outros são animais da necessidade. Essa peculiaridade do 
humano se deve, basicamente, ao fato de ser o único dotado da capacidade 
de linguagem. O único que fala – e não apenas comunica (fome. saciedade, 
alegria, prazer, tristeza, dor, libido...) como os outros representantes da fauna
 do planeta Terra.

Qualquer coisa que um humano fale (com palavras, com olhares, com sinais) 
pense ou escreva - seja uma palavra, frase, ou seja, um discurso – haverá
 sempre um ‘buraco’, uma ’fenda’, sempre um ‘algo’ a mais dizer. 
De um modo geral, se diz que ‘ninguém é perfeito’; e isto é verdade 
ma medida em que não existe uma única verdade sobre seja lá o que for; 
na medida em que sendo ‘imperfeito’, o bicho humano não pode produzir
 obras ‘perfeitas’...  A começar por sua obra prima, primeira, isto é, a 
linguagem. Jamais um humano dirá TUDO sobre um minúsculo fio de cabelo.

A falta é que constitui o desejo; a satisfação plena é que constitui 
a necessidade. Com o estômago cheio, nenhum outro animal quer mais 
comida até que esse órgão se esvazie novamente. O ser humano não 
quer só comida ou bebida; ele quer arte, diversão, balé... Mas quando
 queremos apenas comida ou bebida, ainda assim a falta de comida e
 de bebida – mesmo quando nosso estômago está cheio – faz falta e,
 assim, remete ao desejo de mais comida, de mais bebida.

O abstêmio ‘absoluto’, ‘convicto’, deseja não desejar beber nenhum 
tipo de bebida alcoólica.

Cena de churrascaria. Rodízio.

Em uma mesa (mesa 1) uma pessoa faz horas que come toda a carne 
que passa e que lhe é oferecida;  já bebeu um litro de Coca Cola.  
Se essa pessoa não fosse um ser humano – quer dizer se fosse outro animal
 – um décimo do que ele já comeu seria o suficiente para suas NECESSIDDADES 
nutricionais. Mas como é um humano, ser do desejo, está ‘com a barriga cheia’, 
mas não resiste ao carrinho de sobremesa. Só um pedacinho de torta de chocolate.
 Chama o garçom e lhe pede um digestivo e a conta.

Em outra mesa (mesa 2), estranho no ‘ninho’ de uma churrascaria, está
 um vegetariano de dieta. Serviu-se de algumas folhas e de poucos 
legumes. Recusou – sinal vermelho! – todo e qualquer tipo de carne.
 Nem olhou para a sobremesa. Pediu um chá e a conta.

Na mesa 1,  a submissão ao desejo parece mais clara que na outra mesa.
 Pode ser. Mas na mesa do vegetariano dominou o desejo de não ter
 desejo de comer sequer um pedacinho de carne; Coca Cola, digestivo, torta... 
Nem pensar!.

O desejo de não desejar é uma força poderosa de desejar. 
O Budismo identifica no desejo a ‘perdição’ do ser humano. 
Não desejar é o que todos devem buscar. Mas – como estamos 
falando de seres hiuiamnos (seres do desejo!), a até mesmo empenhar-se, 
sacrificar-se, meditar para cessar o desejo é uma forma de desejar diminuir
 o desejo. Mesmo na dieta mais rigorosa prevalece o desejo de ser forte 
contra as tentações contrárias àquela dieta.

Vicente Deocleciano Moreira
                                                 

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