domingo, 4 de maio de 2014

POESIA BUARQUEANA PARA O RIO DE JANEIRO

CARIOCA


Chico Buarque

Gostosa
Quentinha
Tapioca
O pregão abre o dia
Hoje tem baile funk
Tem samba no Flamengo
O reverendo
No palanque lendo
O Apocalipse
O homem da Gávea criou asas
Vadia
Gaivota
Sobrevoa a tardinha
E a neblina da ganja
O povaréu sonâmbulo
Ambulando
Que nem muamba
Nas ondas do mar
Cidade maravilhosa
És minha
O poente na espinha
Das tuas montanhas
Quase arromba a retina
De quem vê
De noite
Meninas
Peitinhos de pitomba
Vendendo por Copacabana
As suas bugigangas
Suas bugigangas


*******


Poucos compositores brasileiros
 cantam o Rio com tanta paixão 
e, ao mesmo tempo, com tanta 
sutileza como Chico Buarque de
Hollanda. O baile funk  na favela e
 o samba logo ali no Flamengo se 
unem à profanidade outra que é o
 voo de asa delta.


O mar por testemunho e o sol
  por ocaso e por acaso 
derramando-se atrás das montanhas ...
 como a se esconder da noite que
 chega à beira mar com seu zoológico
 humano próprio, a menina adolescente ...
 "peitinhos de pitomba" todo o homem vê
 com olhos masculinos que nada deixa 
a escapar daquela mulher em flor e em 
franca negação da ilegalidade do trabalho 
infantil ... ora ilegalidade ... e as 
muambas e as bugigangas soltas por ai ... 
turistas e nativos sem pressa ... 'sonâmbulos'
 a rastejar no calçadão de Copacabana ... 
"princesinha do mar"

Isso é o Rio

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