CHEGA DE SHOPPINGS!
Dimitri Ganzelevitch
Produtor Cultural
[publ jornal A Tarde. Salvador. Bahia. Brasil, 17,05,2014, p. A3]
Não aguento mais esta nova religião m- quase fanatisno - que celebra sua fé no deus Consumo em gigantescos centros comerciais. Templos sinistros, opressores nos seu aspecto físico e, muito mais grave, no seu aspecto social.
A cada dia essas catedrais drenam seres angustiados, vomitados por milhares de carros e ônibus e que neutralizam seus fantasmas comprando inutilidades. Frustrados, outros só podem passear nos seus corredores e escadas rolantes a contemplar frutos proibidos pelas carências econômicas.
Viajam tristemente de elevador metido a aquário, por lojas ostentando nomes em inglês ou italiano. Entre "off" e "sale", procuram se assemelhar, mergulhando em qualquer coisa com ar de importado. "Fashion" é o abre-te-Sésamo.
Em Salvador, impregnada de generosas camadas de provincianismo, eles vão lá para "se amostrar", excessivamente produzidos e perfumados, com a ilusão de pertencer a uma utopica classe A que nunca aparece nas praças de alimentação ou pelas cansativas promoções.
Imagino esses elefantescos shoppings desaparecendo por mágica para verdes parques e jardins floridos surgirem do nada. Imagino o comércio de rua encontrando a freguesia de outrora. Precisamos de mais um centro comercial na Boca do Rio? Não seria melhor passear num imenso coqueiral, crianças alegres correndo ao ar livre, bicicleta e skate, famílias farofando na grama, namoradops namorando em bancos públicos?
Para que mais lojas de jeans, de camisetas, de vestidos bordados a máquina e calçados brilhosos e luminosos, de bobagens para enfeitar a sala, o banheiro, a piscina? Mais parafernália informatizada? Mais jogos eletrônicos? Mais celulares para esquecer os companheiros e familiares aqui presentes? Até quando vamos impermeabilizar a terra com montanhas e concreto, de pastilhas coloridas, de luzes inúteis? Até quando irá essa bulimia de futuro lixo vendido em papel de presente?
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