quarta-feira, 11 de fevereiro de 2015

TRISTE BAHIA - DE REI DO ROCK A REI MOMO DO ASILO

BLOG DO ALBENÍSIO

Waldir Serrão

Rei do rock agora é oRei Momo do Asilo

ALBENÍSIO FONSECA

 Aos 74 anos, Waldir Serrão – precursor e Rei do Rock’n’roll na
 Bahia no início dos anos 60 – agora é  o Rei Momo do
Carnaval no Asilo Dom Pedro II. Na terça-feira (10.02) ele
comandou o Baile de Carnaval da instituição ao som da
banda de Cristine e Coringa. Serrão, que boa parte do público
conhece pelo nome artístico de Big Ben, está há dois anos nesse
tradicional abrigo para idosos da cidade. “Mesmo sendo
candidato único no concurso que o elegeu Rei Momo, para ele,
 ter sido eleito “foi uma surpresa”, brinca, garantindo que
“quem foi rei sempre será majestade”.
Na segunda-feira (9) pela manhã, ele e a Rainha da Folia,
Lúcia, comandaram o desfile de Carnaval no interior do abrigo,
ao som da Banda da Guarda Municipal. Para Waldir Serrão,
há uma “enorme diferença” entre Carnaval e Rock’n’roll.
“Mesmo os festivais de rock eram completamente diferentes”.
Segundo ele, “o Carnaval não tem a mesma variedade musical e
cultural do rock. A turma do Carnaval só pensa em ganhar
dinheiro, no ambiente do rock não é bem assim”, acredita.
Sem oportunidade de trabalho nas emissoras de rádio baianas,
Serrão passou a enfrentar dificuldades. Graças a um irmão,
conseguiu sua aposentadoria como radialista, ele que sempre
foi um dublê de cantor e homem do rádio. Antes do Pedro
 II, passou uma temporada no Abrigo São José, na Ladeira dos
 Bandeirantes, de onde saiu para a casa de uma ex-namorada,
Solange, no Dique do Tororó, a quem se diz muito grato.
“Ela não admitia que eu viesse a passar fome e me proporcionou
alimentação e abrigo durante uns oito meses”, ressaltou.

Cine Roma e Elvis Presley

“É uma enorme coincidência que eu esteja aqui, ao lado
 do Cine Roma, o principal palco da história do rock na
 Bahia. Estou no Pedro II graças à força de Carlos Pitta e
 Jerry Adriani. O Governo do Estado nunca me proporcionou nada”,
afirma. Sobre o fato de ter não ter feito poupança para
garantir um futuro tranquilo, Waldir Serrão – com a mesma
 voz que badalou por 18 anos o programa “O Som do Big Ben”
em emissoras de rádio e tevê de Salvador – diz que gastava muito.
“Banquei muitos shows que não deram o retorno imaginado.
Passei um mês nos Estados Unidos. Conheci Memphis, no
 Tennesse, a terra em que Elvis Presley nasceu e um dos
berços do rock’n’roll. Conheci a casa e o túmulo dele em
Graceland. Elvis foi meu principal ídolo”, conta.
A paixão de Waldir Serrão por Elvis Presley sempre foi tanta
que, pai de um casal de gêmeos, não hesitou em colocar o
 nome dos filhos, já com 39 anos, “Elvis” e “Sylvia” (título
de uma canção, sucesso na voz do Rei do Rock mundial).
Outra paixão dele foi a cantora norte-americana Barbra Streisand.
“Tinha todos os discos dela”, revela. Do mesmo modo que a voz,
a memória de Serrão também permanece acesa. Recordou de
parceiros do tempo do Rádio, dos fã-clubes que ajudou a fundar
 na cidade. “Não era só de Elvis, tinha os de Cauby Peixoto,
Ângela Maria, Jerry Adriani”, lembra sem esforço.

Roqueiro cantando MPB

“Imagine, eu, roqueiro, agora estou cantando MPB no
 Coral Menino Jesus, cujas atividades estão suspensas por
 causa do Carnaval”. A conversa com Waldir Serrão é
 divertida e ele cobra a visita dos amigos roqueiros,
“inclusive com doações para os demais idosos do Asilo
 Pedro II”. Ele revela que sempre que pode dá uma fugida.
“Vou visitar meu filho Elvis, que também canta, mas na
Igreja Batista de Pernambués. A mãe proibiu ele de cantar rock
pois, segundo ela, é música do diabo”. Ele aproveita, também,
para ir ver a namorada Nilda, “com quem mantenho uma relação
afetiva há 10 anos”.
Sobre Raul Seixas, disse que “no início de toda essa aventura
 do rock’n’roll na Bahia, nós éramos ao mesmo tempo parceiros
 e concorrentes. Eu tinha a banda Waldir Serrão e seus Cometas
e ele a Raulzito e seus Panteras. Tudo acontecia aqui entre Roma
e a Boa Viagem. A Cidade Baixa era a capital do rock em Salvador.
Tanto eu como Raul fomos influenciados pelo cinema em filmes
como “Sementes do Ódio” (com James Dean) e “No balanço
das horas” (com Billy Halley e seus Cometas). Tocávamos
 nos clubes sociais. Lembro sempre de uma apresentação
 nossa no Fantoches da Euterpe, no 2 de Julho”, recorda.

Pique para voltar ao rádio

Após ter atuado como radialista de 1964 a 1984,
Serrão não titubeia: “Tenho pique para voltar a
apresentar shows e programas de rádio. O Mário Kértesz
prometeu me ajudar com um emprego na Rádio Metrópole,
onde trabalhei 10 anos com o programa “Inclusão Social”,
 que tocava música gospel e country, mas até hoje não
cumpriu a promessa”, cobrou.
Na rotina dos últimos dois anos, após o café da manhã
no Pedro II, ele participa de atividades junto aos demais idosos.
“Alguns preferem artesanato, aulas de canto, jogos. Eu gosto de
 desenhar e pintar. Aqui tenho liberdade e posso descansar,
 ouvir os pássaros cantando no jardim”, revela com o
mesmo entusiasmo de sempre.

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