domingo, 23 de março de 2014

FERREIRA GULLAR - TEMPOESIA NA CIDADE

TEMPOESIA  NAS CIDADES  

      POSTAGENS 

DE POESIAS QUE EXIBAM  

ALGUM  DESTAQUE À  CIDADE



FERREIRA GULLAR


 ONDE ANDARÁS

Onde andarás nesta tarde vazia
Tão clara e sem fim
Enquanto o mar bate azul em Ipanema
Em que bar, em que cinema
Te esqueces de mim?
Enquanto o mar bate azul em Ipanema
Em que bar, em que cinema
Te esqueces…Eu sei meu endereço apagaste do teu coração
A cigarra do apartamento
O chão de cimento
Existem em vão
Não serve pra nada a escada, o elevador
Já não serve pra nada a janela
A cortina amarela
Perdi meu amor
E é por isso que eu saio pra rua
Sem saber pra quê
Na esperança talvez de que o acaso
Por mero descaso
Me leve a você


PELA  RUA

Sem qualquer esperança
Detenho-me diante de uma vitrina de bolsas
Na avenida
 nossa senhora de Copacabana,  domingo,
Enquanto o crepúsculo se desata sobre o bairro.
Sem qualquer esperança
Te espero.
Na multidão que vai e vem
Entra e sai dos bares e cinemas
Surge teu rosto e some
Num vislumbre
E o coração dispara.
Te vejo no restaurante
Na fila do cinema, de azul
Diriges um automóvel, a pé
Cruzas a rua
Miragem
Que finalmente se desintegra com a tarde acima dos edifícios
E se esvai nas nuvens.
A cidade é grande
Tem quatro milhões de habitantes e
 tu és uma só.
Em algum lugar estás a esta hora, parada ou andando,
Talvez na rua ao lado, talvez na praia
Talvez converses num bar distante
Ou no terraço desse edifício em frente,
Talvez estejas vindo ao meu encontro, sem o saberes,
Misturada às pessoas que vejo ao longo da avenida.
Mas que esperança! tenho
Uma chance em quatro milhões.
Ah, se ao menos fosses mil
Disseminada pela cidade.
A noite se ergue comercial
Nas constelações da avenida.
Sem qualquer esperança
Continuo
E meu coração vai repetindo teu nome
Abafado pelo barulho dos motores
Solto ao fumo da gasolina queimada.



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