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Adriane Garcia
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Edgar Degas (1834-1917), francês, Bailarina sentada (1879-80)ESCULTURAS VIVAS
Repare nas mães
Tendo ao colo filhos dormindo:
Pietás de carne e osso
Carregando destinos.
TROPEÇO
Saia daqui se gosta
De algodão-doce
Glicose
Transformada em poesia
Etérea, nuvenzinha de cor
Na mão do anjinho
Que caminha
E não vê a pedra.Degas, Aula de dança no Opéra (1872)CORPO E ALMA
Carrego meu corpo
E ele me carrega
O primeiro ato pesa
O segundo dói
Somos nós dois atrelados
Bolas de ferro e correntes mútuas
Nos calcanhares magros, de hematomas
Nos pés lançados no quente asfalto
Cheios de crenças e de bolhas.DO MIRANTE
Metade do que tu és
É mentira
Da outra metade, revê
Do que são falas de tua mãe
Do que são ralhos de teu pai
Se és de mágoas
Já não és inteiro
Mergulha no abismo
E te encontra
E sobe como um ressurreto
E vem ver comigo daqui de cima.Degas, Aula de dança (1873-75)TRÊS OLHARESOs cães têm todos os mesmos olhos
Pedidos vítreos
Os macacos têm todos os mesmos olhos
Lamentos encapsulados
Os humanos têm todos os olhos:
Disfarces da cegueira.
DE CROCODILOOlho a vida:
Um crocodilo inerte
Tomando sol
... e me olhando
Eu, inerte
Nós dois
Abrindo a boca
E lacrimejando.
Degas, Bailarinas (1884-85)
... SE FICAR O BICHO COME
Era um bezerro fracote
Por sorte, à fortuna da roda
Deixou de ser bife à mesa
Cresceu
Virou boi de piranha.
FISIONOMIAS
O metrô vai
Carregado de rostos
Este tem uma bolsa
E uma conta para pagar
Aquele tem uma lembrança
Não quer lembrar
Mas o metrô é tão contínuo
Que embala...
E em cada curva
Em cada linha de expressão
Uma história que é a mesma
Para todos
Vá lá, admita,
Somos apegados a detalhes
E é só isso que faz
Rostos diferentes
Aquele outro, tão jovem
Sorri:
Tem um bilhete
E uma inocência.Degas, Aula de dança (1871)BOIADAMilhares nos carros de boi
Puxando do horário comercial pra casa
Da casa pro horário comercial
Dormem em pé, cansados,
Ruminam a grama verde que adubam
E não comem
É gado de pouco sonho
De pouca ração
De muito corte.VIDACarro à deriva:
A enchente carrega
Com gente dentro.
SOLIDÃO
Só
O homem
Procura
O outro
Homem
Só.
Quando: Quarta-feira, 17/06/2015, a partir das 18h30 Onde: Casa das Rosas Espaço Haroldo de Campos de Poesia Av. Paulista, 37 - Bela Vista São Paulo - SP |
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