sexta-feira, 21 de fevereiro de 2014

FCCV - CUIDE BEM DA NOSSA LIBERDADE

Em Sexta-feira, 21 de Fevereiro de 2014 11:44, Leitura de Fatos Violentos

FCCV 
Fórum Comunitário 
de Combate à Violência

Leitura de fatos 
violentos publicados na mídia
Ano 14, nº 01, 18/02/2014
Salvador - Bahia - Brasil 
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CUIDE BEM 
DA NOSSA LIBERDADE

Há usos da liberdade nos tempos atuais que levam a tristeza, a desencanto e a dor. Quando ela era motivo de luta parecia ser sempre botina, bendita, querida de todos. Desejá-la sempre, apesar dos conflitos e polêmicas que prepara a cada instante, é básico para quem preza a democracia.

Entre as liberdades há uma que tem lugar especial e vem nomeada como Liberdade de Expressão. Essa modalidade é muito relevante para o exercício do Jornalismo. É a partir dela que se pretende garantir a Liberdade de Imprensa. Ela pressupõe que a imprensa e os seus profissionais sejam livres em relação a quaisquer mecanismos de censura seja de caráter politico como econômico ou de outros tipos de poderes capazes de limitar a livre expressão.

Por que a sociedade deveria defender a liberdade aqui indicada? Não seria esta uma questão concernente apenas aos interesses das empresas de comunicação e dos profissionais da área? Esse questionamento tem lá sua validade e está relacionado com o fato de que se sabe que os meios de comunicação se constituem em empresas com caráter comercial e lucrativo. Tem como horizonte principal os compromissos empresariais, não podendo abrir mão dos mesmos.  É claro, portanto, que a atuação dos profissionais de imprensa não pode se confrontar com mencionados compromissos. Eles dispõem de uma liberdade relativa, tendo em vista as conexões entre interesses a serem preservados pela mídia. E este tipo de limitação é posta como um dado que, em certo sentido, caracteriza o sentido da liberdade praticada em cada meio de comunicação.

No interior deste limite são identificados determinados “espaços de liberdade” que muitas vezes são descobertos – e até criados – pelos profissionais, de modo a alcançar algo como a liberdade possível. Entretanto, pode-se passar ao largo dessa busca inquietante e atuar sempre em conformidade com o formato aprovado pela organização em que se trabalha.

Às vezes o público confunde como liberdade algumas performances, muito aplicadas em jornalismo televisivo, que sugerem destemor, exaltação e até ira por parte de alguns profissionais que passam a ser acreditados como corajosos. Estas atuações estão, normalmente, associadas à estratégia de “apresentação real da verdade”. O profissional “não trava a língua” e diz o que dá na telha.

Trata-se de um tipo de jornalismo que se utiliza de recursos emocionais buscando compatibilizar-se com setores da opinião pública: diz o que muita gente gostaria de dizer, o que está na garganta de muitos. Neste sentido, não se define pela busca de acréscimo às informações, em vez disso, utiliza as informações já conhecidas do público e as consolida como plataforma para o seu desempenho. Não trabalha com o duvidoso, com o espinhoso, com o que precisa tornar-se objeto de informação, tão caro ao jornalismo. Atua a partir do que é dado, que já está estabelecido e, portanto, com altas chances de se tornar portador poderoso de uma opinião já consolidada. Quando isto acontece, o jornalismo funciona como um plasma em relação a uma opinião, a uma posição difusa na sociedade.

Ao apelar para a catarse, assume em gestos e através de outros elementos corpóreos a impressão de opinião pessoal (acima da profissional), doando ao público, em nível subjetivo, algo como um conhecimento de si, e, com isto, construindo um tipo, um ator, uma marca, que competirá com outras marcas de jornalismo que utilizam outras estratégias.

Nada disso tem a ver diretamente com a busca (inglória, é verdade) de liberdade de expressão. Mas, como o que vale é imagem e como essa tem a capacidade de se confundir com o seu referente, é possível que, com o longo prazo de representação do personagem, o ator não consiga se descolar do seu papel, não sabendo mais distinguir-se entre o fumador e o cachimbo. É uma situação de conversão que coloca a liberdade a serviço do modelo cultivado pelo ator. Desaparecem, assim, ponderações éticas, morais, legais e, sobretudo, projeta-se um uso da liberdade como elemento de prazer pessoal.

Quando as coisas chegam a tal ponto, a própria liberdade se encontra em risco. E é em nome Dela, da liberdade, que devemos lembrar que ao direito de liberdade de imprensa se associa com o direito à informação. Em última análise, são direitos de todos e não podem ser tomados como privilégios de alguns que querem falar o que dá audiência, pouco importando se a atuação possa provocar danos à sociedade, a exemplo da apologia à estratégia de fazer justiça com as próprias mãos.



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