Ressignificar o subúrbio para ressignificar a cidade
Se o abandono das áreas suburbanas não for revertido, é a revitalização do Rio de Janeiro como um todo e seu próprio desenvolvimento que ficam comprometidos
Rio de Janeiro, 28 abril de 2010
Rosa Lima
O tempo das casas simples, com cadeiras na calçada e na fachada escrito em cima que é um lar já vai muito longe. Hoje o subúrbio carioca está mais para as casas sem cor, a cara a tapa, a luz dura e a chapa quente cantadas pelo mesmo Chico Buarque quase 50 anos depois.
Muitas das vilas operárias e parques proletários que se formaram ao longo da Leopoldina e da Avenida Brasil viraram favelas, fábricas fecharam suas portas e o que restou foi um gigantesco número de famílias morando mal, sem trabalho nem serviços públicos decentes. Sem perspectiva de futuro, enfim.
Esse abandono do subúrbio trouxe conseqüências nefastas não apenas para os 43% da população carioca que vive nele, mas para a metrópole toda. Se ele não for revertido, é o próprio desenvolvimento do Rio de Janeiro como um todo que fica comprometido. O alerta foi feito na segunda-feira, 26 de abril, por dois grandes especialistas em cidades: o geógrafo Jailson Sousa e Silva, atual secretário de Educação de Nova Iguaçu, e o arquiteto Sérgio Ferraz Magalhães, hoje presidente do Instituto dos Arquitetos do Brasil no Rio de Janeiro.
Convidados do 33º. OsteRio, os dois defenderam um novo olhar sobre o subúrbio carioca, que o recoloque no centro da agenda pública, como condição sine qua non para a própria revitalização do Rio de Janeiro. "Só há um caminho para se repensar a cidade: a partir do subúrbio", afirmou Jailson. "Proponho criarmos aqui um núcleo político de defesa da Zona Norte, que a transforme numa região compatível com nossa contemporaneidade", disse Sérgio.
Para Jailson, isso implica políticas públicas integradas nas áreas de habitação, transporte, segurança e cultura. "Só assim poderemos unificar a cidade e voltar a nos sentir cidadãos e sujeitos". Para Sérgio, o primeiro passo para essa reversão está na transformação dos trens urbanos em metrô de superfície, com ar condicionado, intervalos regulares e estações confortáveis. "Se a Zona Norte tiver um transporte de qualidade, todo o sistema metropolitano se beneficia. É fácil, é barato e dá para fazer já".
Unidades de Políticas PúblicasJailson Silva abriu a sessão questionando o tipo de representação de cidade que temos. "Se o princípio fundamental que define e dá sentido à cidade é o do espaço da legitimação da diferença, no Rio vivemos a negação do outro. A cidade só se pensa e se reconhece como Zona Sul, referência que progressivamente vai se ampliando em direção à Barra. As demais áreas são vistas pela negação: é o lugar do suburbano, do pobre, do favelado e do feio".
A consequência dessa visão míope é a falta de investimento e o esvaziamento econômico e cultural do subúrbio, que redundou no seu completo abandono, com um custo altíssimo para a cidade como um todo. "É impossível construir uma utopia que não seja a partir do reconhecimento da diferença e da luta contra a desigualdade. Sem isso, não conseguiremos estancar a violência e a dor".
Para Jailson, não podemos perder a oportunidade trazida pelas Olimpíadas de buscar outras centralidades no Rio com fortes investimentos no subúrbio. "Uma dessas oportunidades, o Pan, já foi perdida, dominado pela lógica da privatização dos recursos públicos. Não podemos deixar que isso se repita", disse, sugerindo, por fim, que as UPPs passem a se chamar Unidades de Políticas Públicas. "A ocupação policial deve ser só no primeiro momento para recuperar a soberania desses territórios. Mas elas precisam ser acompanhadas de ações integradas do Estado, com coordenação civil e a presença de um ouvidor comunitário", defendeu.
Rosa Lima
O tempo das casas simples, com cadeiras na calçada e na fachada escrito em cima que é um lar já vai muito longe. Hoje o subúrbio carioca está mais para as casas sem cor, a cara a tapa, a luz dura e a chapa quente cantadas pelo mesmo Chico Buarque quase 50 anos depois.
Muitas das vilas operárias e parques proletários que se formaram ao longo da Leopoldina e da Avenida Brasil viraram favelas, fábricas fecharam suas portas e o que restou foi um gigantesco número de famílias morando mal, sem trabalho nem serviços públicos decentes. Sem perspectiva de futuro, enfim.
Esse abandono do subúrbio trouxe conseqüências nefastas não apenas para os 43% da população carioca que vive nele, mas para a metrópole toda. Se ele não for revertido, é o próprio desenvolvimento do Rio de Janeiro como um todo que fica comprometido. O alerta foi feito na segunda-feira, 26 de abril, por dois grandes especialistas em cidades: o geógrafo Jailson Sousa e Silva, atual secretário de Educação de Nova Iguaçu, e o arquiteto Sérgio Ferraz Magalhães, hoje presidente do Instituto dos Arquitetos do Brasil no Rio de Janeiro.
Convidados do 33º. OsteRio, os dois defenderam um novo olhar sobre o subúrbio carioca, que o recoloque no centro da agenda pública, como condição sine qua non para a própria revitalização do Rio de Janeiro. "Só há um caminho para se repensar a cidade: a partir do subúrbio", afirmou Jailson. "Proponho criarmos aqui um núcleo político de defesa da Zona Norte, que a transforme numa região compatível com nossa contemporaneidade", disse Sérgio.
Para Jailson, isso implica políticas públicas integradas nas áreas de habitação, transporte, segurança e cultura. "Só assim poderemos unificar a cidade e voltar a nos sentir cidadãos e sujeitos". Para Sérgio, o primeiro passo para essa reversão está na transformação dos trens urbanos em metrô de superfície, com ar condicionado, intervalos regulares e estações confortáveis. "Se a Zona Norte tiver um transporte de qualidade, todo o sistema metropolitano se beneficia. É fácil, é barato e dá para fazer já".
Unidades de Políticas PúblicasJailson Silva abriu a sessão questionando o tipo de representação de cidade que temos. "Se o princípio fundamental que define e dá sentido à cidade é o do espaço da legitimação da diferença, no Rio vivemos a negação do outro. A cidade só se pensa e se reconhece como Zona Sul, referência que progressivamente vai se ampliando em direção à Barra. As demais áreas são vistas pela negação: é o lugar do suburbano, do pobre, do favelado e do feio".
A consequência dessa visão míope é a falta de investimento e o esvaziamento econômico e cultural do subúrbio, que redundou no seu completo abandono, com um custo altíssimo para a cidade como um todo. "É impossível construir uma utopia que não seja a partir do reconhecimento da diferença e da luta contra a desigualdade. Sem isso, não conseguiremos estancar a violência e a dor".
Para Jailson, não podemos perder a oportunidade trazida pelas Olimpíadas de buscar outras centralidades no Rio com fortes investimentos no subúrbio. "Uma dessas oportunidades, o Pan, já foi perdida, dominado pela lógica da privatização dos recursos públicos. Não podemos deixar que isso se repita", disse, sugerindo, por fim, que as UPPs passem a se chamar Unidades de Políticas Públicas. "A ocupação policial deve ser só no primeiro momento para recuperar a soberania desses territórios. Mas elas precisam ser acompanhadas de ações integradas do Estado, com coordenação civil e a presença de um ouvidor comunitário", defendeu.
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