"LATRINA - A MAIOR INVENÇÃO DA HUMANIDADE" (Vargas Llosa) (4)
"Evolução dos Sistemas de Esgotamento (I)
[Fonte - Texto extraído de http://www.ufcg.edu.br/saneamento/ES00_00.html]
Os primeiros sistemas de esgotamento executados pelo homem tinham como objetivo protegê-lo das vazões pluviais, devendo-se isto, principalmente, à inexistência de redes regulares de distribuição de água potável encanada e de peças sanitárias com descargas hídricas, fazendo com que não houvesse, a primeira vista, vazões de esgotos tipicamente domésticos.
Sítios escavados em Mohenjo-Daro, no vale da Índia, e em Harappa, no Punjab, indicam a existência de ruas alinhadas, pavimentadas e drenadas com esgotos canalizados em galerias subterâneas de tijolos argamassados a, pelo menos 50 centímetros abaixo do nível da rua. Nas residências constatou-se a existência de banheiros com esgotos canalizados em manilhas cerâmicas rejuntadas com gesso. Isto a mais de 3000 a. C.
No Egito, no médio Império (2100-1700 a. C.), em Kahum, uma cidade arquitetonicamente planejada, construíram-se nas partes centrais, galerias em pedras de mármore para drenagem urbana de águas superficiais, assim como em Tel-el-Amarma, onde até algumas moradias mais modestas dispunham de banheiros. Em Tróia regulamentava-se o destino dos dejetos, sendo que a cidade contava com um desenvolvido sistemas de esgotos. e Knossos, em Creta, a mais de 1000 a. C., contava com excelentes instalações hidro-sanirtárias, notadamente nos palácios e edifícios reais. Na América do Sul os incas e vizinhos de língua quíchua, desenvolveram adiantados conhecimentos em engenharia sanitária como atestam ruínas de sistemas de esgoto e drenagem de áreas encharcadas, em suas cidades.
Historicamente é observado que as civilizações primitivas não se destacaram por práticas higiênicas individuais por razões absolutamente sanitárias e sim, muito freqüentemente, por religiosidade, de modo a se apresentarem limpos e puros aos olhos dos deuses de modo a não serem castigados com doenças. Os primeiros indícios de tratamento científico do assunto, ou seja, de que as doenças não eram exclusivamente castigos divinos, começaram a aparecer na Grécia, por volta dos anos 500 a. C., particularmente a partir do trabalho de Empédocles de Agrigenco (1), que construiu obras de drenagem das águas estagnadas de dois rios, em Selenute, na Sicília, visando combater uma epidemia de malária.
No livro hipocrático Ares, Águas e Lugares (2), um texto médico por excelência, consideravam-se insalubres planícies encharcadas e regiões pantanosas, sugerindo a construção de casas em áreas elevadas, ensolaradas e com ventilação saudável. Saliente-se que nas cidades gregas havia os administradores públicos, os astínomos, responsáveis pelos serviços de abastecimento de água e de esgotamentos urbanos como, por exemplo, a manutenção e a limpeza dos condutos. Nas cidades romanas do período republicano esta gerência era desempenhada pelos censores e no imperial, a partir de Augusto (3), pelos zeladores e atendentes. A prestação destes serviços, no entanto, eram prioridade das áreas nobres das cidades gregas e principalmente das romanas, onde os moradores tinham de pagar pelo uso do serviço.
É importante citar que uma obra como a cloaca máxima, destinada ao esgotamento subterrâneo de águas estagnadas dos pés da colina do Capitólio até o Tibre, ainda hoje em operação, foi concluída no governo de Tarquínio Prisco (5). Em De Arquitetura, Vitrúvio (6) justificava a importância de se construírem as cidades em áreas livres de águas estagnadas e onde a drenagem das edificações fossem facilitadas. relatos de Josefos (7) sobre o Oriente Médio, descrevem elogios ao sistema de drenagem em Cesaréia, construído por Herodes (8). Já Estrabão surpreendeu-se negativamente com a construção de galerias a céu aberto em Nova Esmirna.
A partir de 476 DC., com a queda do Império romano, iniciou-se o período medieval, que duraria cerca de um milênio, e desgraçadamente para o Ocidente, caracterizou-se por uma fusão de culturas clássicas, bárbaras e ensinamentos cristãos, centralizado em Constatinopla (9). Grande parte dos conhecimentos científicos foram deslocados pelos cientistas em fuga, para o mundo árabe, notadamente a Pérsia, dando início na Europa, a uma substituição deste conhecimento por uma cultura a base de superstições, gerando a hoje denominada Idade das Trevas (500-1000 DC.). Como a ênfase de que as doenças eram castigos divinos às impurezas espirituais humanas e seus tratamentos eram resolvidos com procedimentos místicos ou orações e penitências, as práticas sanitárias urbanas sofreram, se não um retrocesso, pelo menos uma estagnação. Neste período, no Ocidente, como o conhecimento científico restringiu-se ao interior dos mosteiros, as instalações sanitárias como encanamentos de água e esgotamentos canalizados, ficaram por conta da iniciativa eclesiástica. Como exemplos desta afirmativa, pode-se citar que enquanto no século IX, a cidade do Cairo, no Egito, já dispunha de um serviço público de adução de água encanada, só em 1310 os franciscanos concordaram em que habitantes da cidade de Southampton utilizassem a água excedente de um convento que tinha um sistema próprio de abastecimento de água desde 1290".
__________
('Evolução dos Sistemas de Esgotamento" prossegue amanhã, terça, 1º de fevereiro)
Nenhum comentário:
Postar um comentário