Eu tava triste
Tristinho!
Mais sem graça
Que a top-model magrela
Na passarela
Eu tava só
Sozinho!
Mais solitário
Que um paulistano
Que um canastrão
Na hora que cai o pano
(...)
("Telegrama" - Zeca Baleiro)
Vicente D. Moreira
Antes de operar os manejos conceituais SOLIDÃO URBANA e SOLIDÃO DO URBANO, cabe retomar o conceito Houais de solidão, inclusive para, como desejamos ontem, tentar compreender a situação do índio isolado de tribos, campos e cidades em torno do qual gira a entrevista que reproduzimos ontem.
Solidão "é estado de quem está ou se sente só", segundo Antonio Houais (1915 -1999), filólogo, dicionarista e filólogo, professor, diplomata, filólogo, lexicógrafo e ensaísta. O estar só é um dados objetivo e o sentir-se só uma constatação subjetiva, mas ambas as situações são classificadas como Solidão.
A dar crédito às informações do jornalista Monte Reel, o índio está só e isolado. Porém, tal julgamento é orientado por uma ótica construída não pelo mundo dos 'brancos', em geral, mas também pelo mundo urbano ('branco') em particular ... é o que estamos chamando/conceituando como SOLIDÃO DO URBANO. É a partir da solidão do urbano - vale dizer, o conceito de Solidão construído no mun do da cidade - que o jornalista e todos nós diagnosticamos: o índio está só, vive na solidão.
Outra coisa é, na busca da subjetividade do indígena, lhe perguntarmos: Você se sente só?. Se ele responde que não, aí temos uma solidão de mão única, a da objetividade pelo nosso "branco" e urbano olhar do que venha a ser Solidão . Se a resposta é sim ... a solidão é, por assim dizer, de 'mão dupla': mão subjetiva/mão objetiva.
A SOLIDÃO URBANA é a solidão que, costumamos dizer, própria das grandes cidades, das metrópoles a exemplo de São Paulo. A letra de Zeca Baleiro traduz a idéia, nosso estereótipo, de cada dia, de que o paulistano (o nativo ou o morador da capital São Paulo) é um ser solitário, não faz laços sociais, vive só; e que a própria São Paulo inspira e transpira solidão e, mais que isso, cobra o preço da solidão a nativos e visitantes da cidade.
Tentando escapar das armadilhas das generalizações, cabe, então, perguntar a algum paulistano se ele se sente só; ou, antes, se ele está realmente, objetivamente, só.
(Continuamos amanhã, quarta)
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