ARQUITETURA
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TEL AVIV , A CIDADE BRANCA |
Foto Ilustrativa
Conhecida como a "Cidade Branca", Tel Aviv é um rico exemplar de arquitetura moderna. Tem a maior concentração do mundo de prédios no estilo "moderno internacional", mais conhecido como "Bauhaus". A famosa faculdade alemã, que praticava a racionalidade e o funcionalismo na arquitetura, encontrou em Tel Aviv seu "berço esplêndido".
A cidade é considerada um verdadeiro museu para a história da arquitetura. Entre 1931 e 1956 foram erguidas cerca de quatro mil construções, todas ao estilo "Bauhaus". A presença constante do vidro, das curvas de concreto e principalmente da cor branca, nas milhares de varandas que enfeitam as construções, garantem à paisagem aérea da cidade um tom luminoso que lhe valeu o título de "Cidade Branca". No dia 3 de julho de 2003, a UNESCO escolheu a "Arquitetura da Cidade Branca" de Tel Aviv como um dos 24 novos "patrimônios históricos da humanidade". No total, a Unesco reconhece 754 sítios como sendo de "excepcional importância mundial", entre os quais contam-se as pirâmides do Egito, Machu-Pichu e o Grand Canyon. A escolha da cidade israelense é um dos poucos reconhecimentos da Unesco como patrimônio da humanidade a algo que seja um "fenômeno do século XX".
Uma cidade judaica modelo
No monumento dedicado aos fundadores de Tel Aviv, situado no início do Boulevard Rothschild, estão inscritos 66 nomes - a quatro destes, entre os quais, Meir Dizengoff, primeiro prefeito de Tel Aviv, deve-se atribuir o mérito da idéia de fundar um subúrbio judaico ao lado de Jaffa. Mas foi o pouco conhecido Akiva Aryeh Weiss, fervoroso sionista da Polônia, quem, ao visitar Eretz Israel, em 1905 (quando soube da morte de Theodor Herzl), teve a visão do que viria a ser Tel Aviv. "A única forma de continuar o trabalho de Theodor Herzl será criando uma cidade judaica modelo na Terra de Israel," escreveu Weiss.
Dois anos depois, ele imigrava, com a família, para Eretz Israel, então sob domínio otomano, e propunha a fundação de um subúrbio residencial judaico fora dos portões de Jaffa, que representaria o núcleo da futura cidade judaica. Nesta se estabeleceria um primeiro contingente de 60 famílias. Para eventuais compradores, o subúrbio era descrito como "bem planejado, com ruas amplas e bonitas, rede de água e de esgotos; um lugar modelo, protótipo dos futuros núcleos urbanos na Terra de Israel".
No início de 1909, um grupo de empresários judeus de classe média adquiriu 34 acres do Pomar Jibali: a área era próxima ao rio Yarkon, à via férrea Jaffa-Jerusalém e se localizava no caminho de Nablus e do assentamento judaico de Petah-Tikva. Cavaram um poço e as dunas de areia que cobriam a área foram terraplanadas. Engenheiros, arquitetos e artistas foram convidados para planejar a nova cidade judaica. Em 11 de abril de 1909, as 60 famílias fundadoras se reuniram no Pomar Jibali para sortear os lotes das propriedades - há uma foto famosa desse evento, considerado o marco do nascimento de Tel Aviv, que retrata um grupo de homens, mulheres e crianças, de pé, trajando roupas ao estilo europeu, em frente a uma desolada paisagem de areia.
Em seis meses, as primeiras cinqüenta casas haviam sido erguidas. Como prometido, o novo subúrbio de Jaffa, chamado inicialmente Ahuzat Bait (Estância das Residências), possuía água encanada e ruas retas e niveladas. Havia até um pequeno parque plantado na área onde fora despejada a terra proveniente dos trabalhos de terraplanagem. Posteriormente este parque se tornaria o Boulevard Rothschild. Um ano depois, Menachem Sheinkin, um dos fundadores, sugeriu que o nome da cidade fosse mudado para Tel Aviv, que significa "Colina da Primavera" ou "Colina da Renovação", nome inspirado no título da obra de Herzl, "Altneuland", ou, em tradução livre, "a nossa renovada terra ancestral". Tel Aviv não foi o primeiro subúrbio judaico fora de Jaffa. Havia onze outros, o mais antigo datando de 1887. Mas a cidade surgiu, desde o início, com uma visão e planejamento bem à frente de seu tempo, tanto que, logo após sua fundação, o preço do terrenos nas proximidades de Jaffa aumentou cinqüenta vezes. Dois anos depois da fundação de Tel Aviv, um novo grupo de colonos comprou o terreno restante do Pomar Jibali e estabeleceu o subúrbio de Nahalat Biniamin, cujas quarenta famílias logo pediram para se unir a Tel Aviv, seguidos pelos integrantes dos outros subúrbios novos ou antigos. Tal integração de assentamentos teve como conseqüência o fim do planejamento coerente de Tel Aviv: a cidade judaica modelo se transformara em um labirinto de ruas, sem paredes, que podia ser comparado a qualquer bazar oriental.
Em 1914, às vésperas da Primeira Guerra Mundial, a área de Tel Aviv crescera dez vezes e sua população ultrapassava duas mil pessoas, mas a guerra trouxe em seu rastro fome e miséria. Após a queda do Império Otomano, a Grã-Bretanha recebeu o mandato de governar a então Palestina. Durante os anos de governo britânico,Tel Aviv conheceu uma fase de crescimento extraordinário, sem paralelos, chegando a alcançar, em 1931, uma população de 75 mil habitantes e cinco mil casas construídas.A população de Tel Aviv cresceu muito nestes últimos 72 anos. No último censo, de 1996, havia 360 mil habitantes na cidade e as previsões do governo para 2010 estimam que a população de Tel Aviv supere a marca dos 470 mil habitantes.
As primeiras construções
Como cidade modelo, Tel Aviv representou uma espécie de laboratório para os arquitetos judeus que buscavam uma linguagem arquitetônica em sintonia com a ideologia sionista. Podemos constatar que o estilo de construção mudava praticamente a cada década.
Primeiro surgiram construções tipo "cidade jardim": casas de pedra, para uma só família, circundadas por árvores frutíferas e por um muro baixo. Era utilizada uma pedra local, o kulcar, de origem calcária, derivada da fossilização das dunas de areia.
Em 1921, em conseqüência dos motins antijudaicos entre os árabes, as autoridades britânicas separaram Tel Aviv da árabe Jaffa. Os judeus de Jaffa abandonaram, em massa, a cidade e se mudaram para Tel Aviv. Quatro anos depois, em conseqüência das restrições econômicas impostas aos judeus da Polônia, do crescente anti-semitismo e do fechamento da imigração para os Estados Unidos, chegou à Palestina um novo contingente de famílias de judeus poloneses, de classe média, que se instalou em Tel Aviv.
O ano de 1925 é lembrado como o do boom demográfico da cidade, cuja população dobrou em dois anos, chegando a 40 mil habitantes.
A partir de então, o subúrbio residencial ajardinado passou a ser um centro comercial moderno e o estilo da construção foi, novamente, mudado. Inicialmente era acoplado um andar suplementar às construções existentes, mas logo começaram a aparecer novos edifícios, de dois ou três andares. O estilo dessas construções é "oriental-moderno", que alguns definem como eclético ou fantasioso, porque é resultado da combinação das idéias modernas dos arquitetos de Tel Aviv, que, em sua maioria, fizeram seus estudos na Europa Oriental, com elementos e estilos orientais e locais refletindo o retorno à Pátria. Assim, às linhas retas e decorações sóbrias dos estilos Art Noveau e Art Deco são acoplados elementos locais orientais, como cúpulas, arcos e pórticos com colunas. Janelas, portas e corrimãos eram trabalhados e foram introduzidos adornos com temas judaicos nas fachadas dos edifícios.
Em 1929, a crise econômica mundial atingiu a cidade e muitos dos arquitetos voltaram para a Europa à procura de trabalho. Em 1931, por sugestão das autoridades britânicas, a prefeitura de Tel Aviv convidou o urbanista escocês Sir Patrick Geddes a projetar um Plano Diretor para a cidade. Como não havia jeito de organizar os bairros antigos, Geddes decidiu trabalhar seguindo o desenvolvimento da cidade para o norte, em direção ao rio Yarkon. Usou o Boulevard Rothschild como modelo e planejou a cidade em torno de uma série de extensas avenidas. Prolongou ao norte o Boulevard Rothschild até a área onde hoje se encontram o Teatro Habima e o Auditório Mann. Planejou longas avenidas seguindo para o norte até o rio Yarkon, paralelas ao Boulevard Rothschild, como a Rehov Yarkon, a Rehov Ben-Yehuda, a Rehov Dizengoff e a Rehov Ibn Gvirol, enquanto ruas menores arborizadas ligariam todas as avenidas com a praia, como por exemplo a Shderot Ben-Gurion.
Tel Aviv e o estilo "Bauhaus"
O Plano Diretor preparado por Geddes coincidiu com mais uma grande onda migratória para a então Palestina, a "Quarta Aliá", especialmente de judeus provenientes da Alemanha, que chegavam fugindo das perseguições nazistas. Entre estes estavam os arquitetos que tinham deixado Tel Aviv no final da década de 20 e também uma nova leva de arquitetos alemães. Estes introduziram nas construções um estilo chamado de "Moderno internacional", "Modernista" ou "Bauhaus", da academia de arquitetura de Walter Gropius, na Alemanha, que deu o nome a este estilo. Entre 1930 e 1956, a cidade ficou rapidamente repleta dessas construções simples, funcionais e lineares, com tetos retos e paredes brancas, criando a impressão de uma cidade branca, vasta, limpa e alinhada.
Nos anos 1950, logo após a criação do Estado de Israel, a arquitetura em estilo "Moderno internacional" foi-se esgotando, sendo substituída por construções grandes, de edifícios governamentais. Ao mesmo tempo eram realizados projetos públicos de moradia destinados aos milhares de novos imigrantes. Na década de 1960, Tel Aviv tinha atravessado em sua extensão o rio Yarkon e novos blocos residenciais surgiam ao norte. O centro histórico da cidade estava abandonado e decadente.
Recuperando a antiga beleza
No final da década de 1970 começaram a aparecer artigos em revistas especializadas em artes e arquitetura sobre os desconhecidos tesouros arquitetônicos de Tel Aviv. Em meados da década de 1980 o Museu de Arte de Tel Aviv apresentou a exposição "A Cidade Branca" e o então prefeito Shlomo "Tchitchi" Lahat convidou críticos de arte e arquitetura para que dessem seu parecer. A importância que os críticos atribuíram às construções em estilo "Bauhaus", também chamado de "Moderno internacional" foi uma surpresa para todos. Prontamente, criou-se uma fundação com a finalidade de catalogar os tesouros arquitetônicos da "Cidade Branca" e arrecadar fundos necessários para a restauração dos edifícios.
No início da década de 1990 a Prefeitura designou uma equipe destinada aos trabalhos de preservação e, em 1994, Tel Aviv sediou, em cooperação com a Unesco, uma grande conferência sobre o estilo "Moderno internacional" e seus exemplos na cidade. A Unesco convidou a Prefeitura de Tel Aviv a apresentar uma proposta para a inclusão da "Cidade Branca" na lista dos locais considerados por este organismo internacional como "patrimônio da humanidade". Em julho de 2003, a Unesco concedeu esse reconhecimento a Tel Aviv.
A equipe de preservação fez, à época, o inventário dos edifícios no coração de Tel Aviv e concluiu que, entre 1931 e 1956, foram erguidas quatro mil edificações em estilo "Bauhaus" ou "Modernista". Estes, em sua maioria, ainda estão de pé e são o esqueleto do centro histórico da cidade. Pelo menos, 1.500 necessitam ser restaurados. Este trabalho tem procedido regularmente e os edifícios restaurados não são mais usados como residência, mas como escritórios de advocacia, sede de bancos ou de seguradoras, embora ainda se encontrem algumas casas residenciais nas ruas Montefiore, Ahad Ha'Am e no Boulevard Rothschild. O visitante que queira conhecer os bairros antigos de Tel Aviv poderá desfrutar de sua arquitetura e atmosfera.
A praça Rei Albert, onde as ruas Montefiore e Nachmani se encontram, parece uma praça européia e pode-se admirar a "Casa Pagoda", que está em processo de restauração. Ao longo da Montefiore desfilam várias casas de época, já restauradas. A rua Karl Netter preserva ainda toda a atmosfera da década de 1920. Entrando-se na rua Ahad Ha'Am, vê-se a fachada da antiga escola do bairro, decorada com os azulejos originais feitos pelos artesãos da Escola de Arte Bezalel, de Jerusalém. Ao lado, encontra-se o Banco Mercantil, decorado com azulejos representando os profetas de Israel.
À medida que as intrigantes casas da "Cidade Branca" começam a aparecer, a beleza de Tel Aviv, que parecia perdida na agitação moderna, volta às ruas antigas.
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