DOMINGO - À TARDE - NO PARQUE
(...)
A semana passada
No fim da semana
João resolveu não brigar
No domingo de tarde
Saiu apressado
E não foi prá Ribeira jogarCapoeira!
Não foi prá lá
Pra Ribeira, foi namorar...
(...)
O cantor e compositor baiano Gilberto Gil pinta, nesta canção (1967), o clima, cores e os objetos de um domingo à tarde, num parque de diversões instalado na Boca do Rio. É bairro popular, uma invasão que deu certo, na orla marítima de Salvador – Bahia – Brasil. São dois personagens (João, operário da construção e José, feirante) e uma mulher que compõem um triângulo amoroso. João, operário e José, feirante deixam para trás o canteiro de obras e a feira, respectivamente, para – num parque de diversões e com Juliana – tentar a visibilidade social que sua profissões não lhes permite durante os chamados “dias úteis”.
O desfecho do triângulo amoroso, regado a traição e ciúme, traz consequências hemodramáticas. E configuram um cenário não exatamente o desejado ou esperado mesmo para um domingo à tarde e seus momentos de tédio, descanso, solidão, cochilo sagrado, ressaca alcoólica ... São momentos tão poderosos que nem as poderosas emissoras de TV brasileiras foram ainda capazes de mudar, com os entretenimentos que confortam nos “dias úteis”, esse conteúdo dominical preguiçoso e melancólico dos domingos à tarde.
De que vale a 'utilidade' do primeiro "dia útil" da semana, segunda-feira, se não mais haverá nem feira nem construção?
Domingo à tarde precisa ter alguma coisa especial na cidade (qualquer cidade) para ser esperado, com alguma emoção, Hoje, à tarde, em Salvador, torcedores estarão ligados ao jogo de futebol tido como “clássico baiano”: Bahia X Vitória. E precisa mesmo. Um jornal de Salvador, o “Correio da Bahia” publicou o seguinte texto, em sua edição de quarta-feira, dia 24:
“Domingo, dia de lazer do povão. Se o programa da tarde for assistir a um bom filme na sala maiôs refrigerada de Salvador, o ingresso é R$ 18, mas caso a opção seja o segundo Ba-Vi do ano em Pituaçu, o cidadão tem que desembolsar R4 40: mais que o dobro! Poucos torcedores foram comprar ingressos ontem, no primeiro dia de venda e os entrevistados estavam retados” (Correio da Bahia. Salvador, 24 de fevereiro de 2010, ano XXXI, nº 09997, p. 32 (Cad. Esporte).
No meio da semana, o jornal já antecipava a alegria triste contumaz dos domingos à tarde no geral e, no particular, das duas torcidas; afinal, os dois times parecem doentes dos pés; será que não estão gostando de samba?
É imprescindível, para muita gente, ter um bom projeto, uma espçerança-a-última-que-morre, para domingo à tarde. Nelson Ned, cantor e compositor, com a palavra:
DOMINGO À TARDE
Nelson Ned
O que é que você vai fazer domingo à tarde,
Pois eu quero convidar você prá sair comigo,
Passear por aí numa rua qualquer da cidade,
Vou dizer pra você tanta coisa que a ninguém eu digo.
Eu não tenho nada prá fazer domingo à tarde,
Pois domingo é um dia tão triste prá quem vive sozinho.
Quando eu vejo um casal namorando,é que eu sinto a verdade.
É tão triste passar o domingo sem ter um carinho.
Se você vive tão só, sei que vai me entender,
Sem amor é muito mais difícil a gente viver,
Pela última vez responda, mas diga a verdade,
Pois eu quero sair com você domingo à tarde.
E, você, já pensou o que vai fazer hoje à tarde?
Bom domingo e melhor domingo à tarde..