O XIXI FEMININO BAIANO ATUAL E SUA RELAÇÃO COM AS FANTASIAS VOYEURISTAS E EXIBICIONISTAS
Ao visitar a Pérsia, Heródoto ficou espantado ao observar mulheres vendendo (produtos, roupas ...) em plena rua, ombro a ombro com homens, ao invés de estarem em casa ... então e na cultura grega seu devido lugar. Mais espantado ainda ficou quando viu que os homens urinavam de cócoras e as mulheres o faziam em pé, abrindo as pernas e deixando a urina correr livremente.
Ainda hoje, mulheres que trabalham em canaviais, cafezais ... e outras culturas agrícolas que exigem proteção dos braços e pernas, por questão de segurança, usam saias bastantes compridas chegando aos tornozelos. Quando sentem vontade de fazer xixi, permanecem em pé e abrem as pernas permitindo o livre curso da urina. Essa prática inspirou o apelido de 'mijonas' para esse tipo de saia
As saias compridas, quase arrastando no chão, as 'mijonas', sempre alimentaram as fantasias masculinas mesmo quando as mulheres usavam, por baixo delas, as anáguas e por baixo destas últimas uma espécie de calção bem folgado e amarrado aos joelhos. É a tal coisa: a maneira mais evidente de exibir publicamente é esconder dos olhos do público, As freiras (mais vestidas, menos vestidas) não escapam deste destino.
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{Ontem, segunda-feira, dia 7/12, noticiamos que a Prefeitura Municipal de Salvador instalou mictórios masculinos em diversas localidades de Salvador. O desenho deles é diferente do tradicional sanitário que abrigava a concha. E que escondia dos transeuntes todo o corpo do homem (e também da mulher). Esses (mictórios) modernos e químicos exibem todo o corpo masculino com exceção - claro! - da zona que vai da linha abdominal até o meio das pernas (passando pelo locus genital) dependendo, claro, da altura do homem. ...}
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E se a Prefeitura de Salvador instalasse/instalar mictórios femininos que exibisse aos olhos público o corpo feminino agachado excetuando - claro - a região genital?
Salvo exceções, - raras como toda exceção ora pois pois - no geral as mulheres teriam acanhamento em utilizar equipamento assim projetado. Penso que a maior parte delas sequer pensaria em utilizar tal mictório.
Enquanto os homens não se acanham em exercer publicamente a micção, as mulheres consideram privativo e oculto aos olhos públicos tal ato. Há mesmo casais que têm constrangimento em urinar na frente do(a) parceiro(a).
Uma mulher pode até acompanhar a outra (notadamente se essa outra tiver dificuldade de locomoção) ao sanitário de um shopping center ou restaurante .. e assim dividir de algum modo esse momento tão íntimo: urinar e/ou defecar.
Já o homem, apesar de sua tão decantada desinibição em fazer xixi em público, dificilmente um acompanharia o outro ao sanitário (salvo situações excepcionais de dificuldade de locomoção de um deles). Muitos têm inibição de urinar dentro da concha e, pior, na canaleta hoje rara em sanitários masculinos. E nesse caso urinam no compartimento onde existe o vaso, depois de fechar e trancar esse espaço reservado. Mais comuns que as ultrapassadas canaletas, as conchas são modernas, sofisticadas, com dispositivo foto elétrico que espirra água e lava a concha quando o usuário se afasta. São dispostas em fila contra a parede e separadas por uma parede fina (mas não transparente), de modo que um não tenha campo de visão para observar o pênis do outro. Essa parede funcionaria como um antídoto contra olhares homo afetivos? Contra olhares comparativos de tamanho de pênis?
Fazendo uso da dicotomia casa X rua (Roberto Damatta - "A Casa e a Rua), diremos que o universo feminino, no caso sobre que estamos tratando, estaria ligado ao domínio do privado (casa, intimidade espacial) e o do homem vinculado à esfera do público (rua, exterioridade espacial)
Mesmo que a Prefeitura de Salvador, ou de qualquer outra cidade se encha de coragem e disponibilize mictórios femininos ao ar livre (a exemplo dos modernos masculinos), as queixas de constrangimento confessadas pelos passantes se multiplicariam em comparação ao mal-estar dos transeuntes ao observarem homens fazendo xixi dentro do decoro possível permitido pelos tais mictórios.
Dificilmente homens marcados pela neurose (obsessiva) parariam para dar uma olhadinha; afinal ela não estariam se despindo por se despir. Estaria sim se desnudando parcialmente e, via de regra, com o objetivo único de urinar. Por outro lado, o superego masculino o desestimularia a praticar tal ato sob os olhos dos transeuntes; a não ser que fosse um homem dominado por alguma perversão ligada à violência sexual.
Mas em qualquer caso as fantasias ... ao menos as voyeuristas ... tenderiam a permanecer.
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{Partilho com vossas mercês uma cena imaginária: duas senhoras estão passando e se deparam com um homem fazendo xixi sobre um poste. Recuperadas do susto, uma diz para a outra: "descarado, sem vergonha, devia ser preso!". Mais adiante elas vêem uma mulher acocorada fazendo xixi junto a outro poste. Cheias de compaixão, comentam: "Coitadinha, deve ser maluca, por que não internam a pobrezinha? Quer dizer: é impensável que uma mulher faça xixi em público - salvo situação de extrema urgência quando sua bexiga não é suficientemente controlada.}