domingo, 30 de novembro de 2014

NOSSO BLOGUE VISTO NO BRASIL E NO MUNDO

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SEMANA DE 23/11/2014, 20h
A 30/11/2014, 19h


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quinta-feira, 27 de novembro de 2014

MANOEL DE BARROS - POESIA.NET - S PAULO - BRASIL

São Paulo, quarta-feira, 26 de novembro de 2014
Número 323 - Ano 12
poesia.net header






«A paixão é como vinho / Passada a embriaguez / 
Resta um co(r)po vazio.» (Myriam Fraga) *

Manoel de Barros



Manoel de Barros






O fazedor de amanhecer
Manoel de Barros


Volpi - Fachada

Alfredo Volpi, Fachada



                
[A MAIOR RIQUEZA]

A maior riqueza do homem é a sua incompletude.
Nesse ponto sou abastado.
Palavras que me aceitam como sou — eu não aceito.
Não aguento ser apenas um sujeito que abre
portas, que puxa válvulas, que olha o relógio, que
compra pão às 6 da tarde, que vai lá fora,
que aponta lápis, que vê a uva etc. etc.
Perdoai.
Mas eu preciso ser Outros.
Eu penso renovar o homem usando borboletas.

      [De Retrato do Artista Quando Coisa, 1998]

 


[O SENTIDO NORMAL DAS PALAVRAS]

O sentido normal das palavras não faz bem ao poema.
Há que se dar um gosto incasto aos termos.
Haver com eles um relacionamento voluptuoso.
Talvez corrompê-los até a quimera.
Escurecer as relações entre os termos em vez de aclará-los.
Não existir mais rei nem regências.
Uma certa liberdade com a luxúria convém.

      [De O Guardador de Águas, 1989]
Volpi - Itanhaém
Volpi, Itanhaém

[A COR DO AMARANTO]

Não sei bem de que cor é a cor do amaranto.
Mas pelo amar e pelo canto fica bem esse
amaranto aí (melhor do que se eu usasse
perpétua, que é o outro nome que se põe a essa flor).
Amaranto murmura melhor.


      [De Concerto a Céu Aberto para Solos de Ave, 1991]
[AS COISAS QUE NÃO TÊM DIMENSÕES]
(trecho)

As coisas que não têm dimensões são muito importantes.
Assim, o pássaro tu-you-you é mais importante por seus
pronomes do que por seu tamanho de crescer.

É no ínfimo que eu vejo a exuberância.


      [De Livro Sobre Nada, 1996]

Volpi - Festa de São João
Volpi, Festa de São João

EXERCÍCIOS DE SER CRIANÇA

No aeroporto o menino perguntou:
— E se o avião tropicar num passarinho?
O pai ficou torto e não respondeu.
O menino perguntou de novo:
— E se o avião tropicar num passarinho triste?
A mãe teve ternuras e pensou:
Será que os abusos não são as maiores virtudes
da poesia?
Será que os despropósitos não são mais carregados
de poesia do que o bom senso?
Ao sair do sufoco o pai refletiu:
Com certeza, a liberdade e a poesia a gente aprende
com as crianças.
E ficou sendo.

      [De Exercícios de Ser Criança, 1999]


 
Volpi - Grande Fachada Festiva
Volpi, Grande Fachada Festiva

A LÍNGUA MÃE

Não sinto o mesmo gosto nas palavras:
oiseau e pássaro.
Embora elas tenham o mesmo sentido.
Será pelo gosto que vem de mãe? de língua mãe?
Seria porque eu não tenha amor pela língua
de Flaubert?

Mas eu tenho.
(Faço este registro porque tenho a estupefação
de não sentir com a mesma riqueza as
palavras oiseau e pássaro)
Penso que seja porque a palavra pássaro em
mim repercute a infância
oiseau não repercute.
Penso que a palavra pássaro carrega até hoje
nela o menino que ia de tarde pra
debaixo das árvores a ouvir os pássaros.
Nas folhas daquelas árvores não tinha oiseaux
Só tinha pássaros.
E o que me ocorre sobre língua mãe.

      [De O Fazedor de Amanhecer, 2001]
 

Volpi - Casario - 1952
Volpi, Casario (1952)

 
POEMA

A poesia está guardada nas palavras — é tudo que eu sei.
Meu fado é o de não saber quase tudo.
Sobre o nada eu tenho profundidades.
Não tenho conexões com a realidade.
Poderoso para mim não é aquele que descobre ouro.
Para mim poderoso é aquele que descobre as insignificâncias (do mundo e as nossas).
Por essa pequena sentença me elogiaram de imbecil.
Fiquei emocionado.
Sou fraco para elogios.

      [De Tratado Geral das Grandezas do Ínfimo, 2001]
FRASES

Minhocas arejam a terra; poetas, a linguagem.

      [Do Livro de Pré-Coisas, 1985]

Um girassol se apropriou de Deus: foi em Van Gogh.

*
Poesia é voar fora da asa.

      [De O Livro das Ignorãças, 1993]
 


Não gosto de palavra acostumada.


*

Do lugar onde estou já fui embora.

      [De Livro sobre Nada, 1996]



*

Noventa por cento do que escrevo é invenção; só dez por cento que é mentira.

      [De Ensaios Fotográficos, 2000]



Escrever o que não acontece é tarefa da poesia.

*

Pra meu gosto a palavra não precisa significar — é só entoar.

*

No gorjeio dos pássaros tem um perfume de sol?

*

Eu queria pegar na semente da palavra.


      [De Menino do Mato, 2010]

Manoel de Barros
Amigas e amigos,

Após longa dedicação ao encantamento de palavras e à administração do inútil,
 
o poeta mato-grossense Manoel de Barros abriu as asas e voou para o território da imaginação.

Transformou-se, quem sabe, num tuiuiú  ou, como ele escreveu certa vez, tu-you-you,

um pássaro cheio de pronomes.Lá se foi o poeta, aos 97 anos de meninice. 
•o•
Manoel Wenceslau Leite de Barros nasceu em Cuiabá-MT em 1916 e faleceu em Campo Grande-MS, em 13 de novembro último. Estudou durante dez anos num internato e depois transferiu-se para o Rio de Janeiro a fim de continuar os estudos. Formou-se em direito em 1941.

Há uma história anedótica a respeito do primeiro livro de Manoel de Barros. A primeira surpresa: não era poesia. Aos 18 anos, no Rio, o poeta entrou para a Juventude Comunista, a ala jovem do Partido Comunista do Brasil (PCB). Nessa época, ele pichou numa estátua a frase "Viva o Comunismo".

A polícia política do governo Getúlio Vargas foi buscá-lo na pensão onde morava. A dona do lugar pediu que não prendessem o menino. Era um rapaz tão bom que até escrevera um livro chamado Nossa Senhora de Minha Escuridão. O policial que chefiava a operação aceitou o pedido. Mas Manoel de Barros nunca mais viu o livro, que foi confiscado. Era cópia única.

A estreia do poeta se daria apenas em 1937, com o lançamento de Poemas Concebidos sem Pecado, uma edição artesanal de apenas 20 exemplares, mais um, o do autor. O segundo livro, Face Imóvel, foi lançado em 1942.

Após o fim da Segunda Guerra Mundial, em 1945, Manoel rompe com o PCB. O motivo: discordou quando o líder Luís Carlos Prestes apoiou a permanência de Getúlio no governo, mesmo após ter amargado dez anos de prisão política, período no qual Getúlio deportou sua esposa, a alemã Olga Benário Prestes, judia, entregando-a para a morte nas mãos dos nazistas.

Desapontado, Manoel foi correr mundo. Viveu na Bolívia e no Peru e também em Nova York, onde fez cursos de cinema e pintura. Nos anos 60, retorna ao Mato Grosso para dedicar-se à criação de gado.

Nesse momento, ocorre uma virada em sua poesia, que se volta cada vez mais para as coisas do chão, os animais, a vida simples, as crianças. Enfim, a poesia dedicada a contemplar “as grandezas do ínfimo” e que lhe valeu merecida fama e reconhecimento, a partir dos anos 80.

Duas características saltam à vista na poesia desse mato-grossense. Uma se  define num verso: “Não gosto de palavra acostumada”. Ou ainda: “O sentido normal das palavras não faz bem ao poema”. E também: “Minhocas arejam a terra; poetas, a linguagem”. Com esses princípios em mente, o poeta subverte a sintaxe, reinventa palavras e cria o ambiente para a eclosão da centelha poética.

A outra característica está ligada às coisas pequenas, as “insignificâncias”  cantadas pelo poeta. Essa poesia do miúdo lhe permite conquistar a simpatia do leitor, que reconhece nos versos de Manoel de Barros o esforço de recuperar a liberdade no ato de ver as coisas do mundo, que perdemos à medida que nos afastamos da infância.

Não é por acaso que entre os poemas mais citados de sua autoria estão alguns incluídos em quatro livros dedicados a leitores infantis, como O Fazedor de Amanhecer, título que tomei por empréstimo para este boletim.

No poema “Língua Mãe”, por exemplo, ele discute nossa identificação ideológica com a língua dentro da qual passamos a infância. Escrevi dentro porque a língua é um ambiente cultural, social, onde apreendemos o mundo, a convivência, os sentimentos. É por isso que o poeta declara: “Não sinto o mesmo gosto nas palavras: oiseau e pássaro”. Pessoalmente, concordo. Até acho que oiseau não voa...

O propósito confesso de Manoel de Barros é “renovar o homem usando borboletas”.

Portanto, chega de conversa. Vejam os textos aí ao lado e borboleteiem-se.
SÓ DEZ POR CENTO É MENTIRA

Para saber mais sobre a vida e a obra de Manoel de Barros, assista no YouTube ao documentário Só Dez por Cento é Mentira (2008), dirigido por Pedro Cezar.
•o•

LANÇAMENTO
Eu Fui Soldado de Fidel — Autobiografia de Fidelina González
• Renata PallottiniA poeta, romancista e dramaturga Renata Pallottini lança nesta quinta-feira o livro Eu Fui Soldado de Fidel – Autobiografia de Fidelina González, publicado pela Editora Hucitec.

Data: 27/11, quinta-feira
Hora: 19h00
Local: Academia Paulista de Letras
Largo do Arouche, 324
São Paulo – SP
Tel: (11) 3892-7772
 

•o•

Não é a primeira vez que Manoel de Barros comparece a esta página. Ele já esteve aqui na edição n. 61, que circulou em março de 2004. Esta, infelizmente, é uma edição que assinala sua passagem para o estágio de pássaro. Viva Manoel de Barros.


Um abraço, e até a próxima,


Carlos Machado





    

•o•




 






poesia.netwww.algumapoesia.com.br
Carlos Machado, 2014

MANOEL DE BARROS - POESIA.NET - S PAULO - BRASIL




São Paulo, quarta-feira, 26 de novembro de 2014
Número 323 - Ano 12
poesia.net header
«A paixão é como vinho / Passada a embriaguez / 
Resta um co(r)po vazio.» (Myriam Fraga) *
facebook-boletim 
Manoel de Barros
Manoel de Barros

Amigas e amigos,

Após longa dedicação ao encantamento de palavras e à administração do inútil, o poeta mato-grossense Manoel de Barros abriu as asas e voou para o território da imaginação.

Transformou-se, quem sabe, num tuiuiú  ou, como ele escreveu certa vez, tu-you-you, um pássaro cheio de pronomes.

Lá se foi o poeta, aos 97 anos de meninice. 
•o•
Manoel Wenceslau Leite de Barros nasceu em Cuiabá-MT em 1916 e faleceu em Campo Grande-MS, em 13 de novembro último. Estudou durante dez anos num internato e depois transferiu-se para o Rio de Janeiro a fim de continuar os estudos. Formou-se em direito em 1941.

Há uma história anedótica a respeito do primeiro livro de Manoel de Barros. A primeira surpresa: não era poesia. Aos 18 anos, no Rio, o poeta entrou para a Juventude Comunista, a ala jovem do Partido Comunista do Brasil (PCB). Nessa época, ele pichou numa estátua a frase "Viva o Comunismo".

A polícia política do governo Getúlio Vargas foi buscá-lo na pensão onde morava. A dona do lugar pediu que não prendessem o menino. Era um rapaz tão bom que até escrevera um livro chamado Nossa Senhora de Minha Escuridão. O policial que chefiava a operação aceitou o pedido. Mas Manoel de Barros nunca mais viu o livro, que foi confiscado. Era cópia única.

A estreia do poeta se daria apenas em 1937, com o lançamento de Poemas Concebidos sem Pecado, uma edição artesanal de apenas 20 exemplares, mais um, o do autor. O segundo livro, Face Imóvel, foi lançado em 1942.

Após o fim da Segunda Guerra Mundial, em 1945, Manoel rompe com o PCB. O motivo: discordou quando o líder Luís Carlos Prestes apoiou a permanência de Getúlio no governo, mesmo após ter amargado dez anos de prisão política, período no qual Getúlio deportou sua esposa, a alemã Olga Benário Prestes, judia, entregando-a para a morte nas mãos dos nazistas.

Desapontado, Manoel foi correr mundo. Viveu na Bolívia e no Peru e também em Nova York, onde fez cursos de cinema e pintura. Nos anos 60, retorna ao Mato Grosso para dedicar-se à criação de gado.

Nesse momento, ocorre uma virada em sua poesia, que se volta cada vez mais para as coisas do chão, os animais, a vida simples, as crianças. Enfim, a poesia dedicada a contemplar “as grandezas do ínfimo” e que lhe valeu merecida fama e reconhecimento, a partir dos anos 80.

Duas características saltam à vista na poesia desse mato-grossense. Uma se  define num verso: “Não gosto de palavra acostumada”. Ou ainda: “O sentido normal das palavras não faz bem ao poema”. E também: “Minhocas arejam a terra; poetas, a linguagem”. Com esses princípios em mente, o poeta subverte a sintaxe, reinventa palavras e cria o ambiente para a eclosão da centelha poética.

A outra característica está ligada às coisas pequenas, as “insignificâncias”  cantadas pelo poeta. Essa poesia do miúdo lhe permite conquistar a simpatia do leitor, que reconhece nos versos de Manoel de Barros o esforço de recuperar a liberdade no ato de ver as coisas do mundo, que perdemos à medida que nos afastamos da infância.

Não é por acaso que entre os poemas mais citados de sua autoria estão alguns incluídos em quatro livros dedicados a leitores infantis, como O Fazedor de Amanhecer, título que tomei por empréstimo para este boletim.

No poema “Língua Mãe”, por exemplo, ele discute nossa identificação ideológica com a língua dentro da qual passamos a infância. Escrevi dentro porque a língua é um ambiente cultural, social, onde apreendemos o mundo, a convivência, os sentimentos. É por isso que o poeta declara: “Não sinto o mesmo gosto nas palavras: oiseau e pássaro”. Pessoalmente, concordo. Até acho que oiseau não voa...

O propósito confesso de Manoel de Barros é “renovar o homem usando borboletas”.

Portanto, chega de conversa. Vejam os textos aí ao lado e borboleteiem-se.

•o•

Não é a primeira vez que Manoel de Barros comparece a esta página. Ele já esteve aqui na edição n. 61, que circulou em março de 2004. Esta, infelizmente, é uma edição que assinala sua passagem para o estágio de pássaro. Viva Manoel de Barros.

Um abraço, e até a próxima,

Carlos Machado

                    
•o•




 




SÓ DEZ POR CENTO É MENTIRA

Para saber mais sobre a vida e a obra de Manoel de Barros, assista no YouTube ao documentário Só Dez por Cento é Mentira (2008), dirigido por Pedro Cezar.
•o•





LANÇAMENTO
Eu Fui Soldado de Fidel — Autobiografia de Fidelina González
• Renata Pallottini
A poeta, romancista e dramaturga Renata Pallottini lança nesta quinta-feira o livro Eu Fui Soldado de Fidel – Autobiografia de Fidelina González, publicado pela Editora Hucitec.

Data: 27/11, quinta-feira
Hora: 19h00
Local: Academia Paulista de Letras
Largo do Arouche, 324
São Paulo – SP
Tel: (11) 3892-7772
 


 
O fazedor de amanhecer
Manoel de Barros
 
 


Volpi - Fachada
Alfredo Volpi, Fachada



[A MAIOR RIQUEZA]
A maior riqueza do homem é a sua incompletude.
Nesse ponto sou abastado.
Palavras que me aceitam como sou — eu não aceito.
Não aguento ser apenas um sujeito que abre
portas, que puxa válvulas, que olha o relógio, que
compra pão às 6 da tarde, que vai lá fora,
que aponta lápis, que vê a uva etc. etc.
Perdoai.
Mas eu preciso ser Outros.
Eu penso renovar o homem usando borboletas.

      [De Retrato do Artista Quando Coisa, 1998]

 
[O SENTIDO NORMAL DAS PALAVRAS]
O sentido normal das palavras não faz bem ao poema.
Há que se dar um gosto incasto aos termos.
Haver com eles um relacionamento voluptuoso.
Talvez corrompê-los até a quimera.
Escurecer as relações entre os termos em vez de aclará-los.
Não existir mais rei nem regências.
Uma certa liberdade com a luxúria convém.

      [De O Guardador de Águas, 1989]


Volpi - Itanhaém
Volpi, Itanhaém

[A COR DO AMARANTO]
Não sei bem de que cor é a cor do amaranto.
Mas pelo amar e pelo canto fica bem esse
amaranto aí (melhor do que se eu usasse
perpétua, que é o outro nome que se põe a essa flor).
Amaranto murmura melhor.


      [De Concerto a Céu Aberto para Solos de Ave, 1991]



[AS COISAS QUE NÃO TÊM DIMENSÕES]
(trecho)
As coisas que não têm dimensões são muito importantes.
Assim, o pássaro tu-you-you é mais importante por seus
pronomes do que por seu tamanho de crescer.

É no ínfimo que eu vejo a exuberância.


      [De Livro Sobre Nada, 1996]


Volpi - Festa de São João
Volpi, Festa de São João


EXERCÍCIOS DE SER CRIANÇA

No aeroporto o menino perguntou:
— E se o avião tropicar num passarinho?
O pai ficou torto e não respondeu.
O menino perguntou de novo:
— E se o avião tropicar num passarinho triste?
A mãe teve ternuras e pensou:
Será que os abusos não são as maiores virtudes
da poesia?
Será que os despropósitos não são mais carregados
de poesia do que o bom senso?
Ao sair do sufoco o pai refletiu:
Com certeza, a liberdade e a poesia a gente aprende
com as crianças.
E ficou sendo.

      [De Exercícios de Ser Criança, 1999]


 
Volpi - Grande Fachada Festiva
Volpi, Grande Fachada Festiva

A LÍNGUA MÃE

Não sinto o mesmo gosto nas palavras:
oiseau e pássaro.
Embora elas tenham o mesmo sentido.
Será pelo gosto que vem de mãe? de língua mãe?
Seria porque eu não tenha amor pela língua
de Flaubert?

Mas eu tenho.
(Faço este registro porque tenho a estupefação
de não sentir com a mesma riqueza as
palavras oiseau e pássaro)
Penso que seja porque a palavra pássaro em
mim repercute a infância
oiseau não repercute.
Penso que a palavra pássaro carrega até hoje
nela o menino que ia de tarde pra
debaixo das árvores a ouvir os pássaros.
Nas folhas daquelas árvores não tinha oiseaux
Só tinha pássaros.
E o que me ocorre sobre língua mãe.

      [De O Fazedor de Amanhecer, 2001]
 

Volpi - Casario - 1952
Volpi, Casario (1952)

 
POEMA

A poesia está guardada nas palavras — é tudo que eu sei.
Meu fado é o de não saber quase tudo.
Sobre o nada eu tenho profundidades.
Não tenho conexões com a realidade.
Poderoso para mim não é aquele que descobre ouro.
Para mim poderoso é aquele que descobre as insignificâncias (do mundo e as nossas).
Por essa pequena sentença me elogiaram de imbecil.
Fiquei emocionado.
Sou fraco para elogios.

      [De Tratado Geral das Grandezas do Ínfimo, 2001]



FRASES
Minhocas arejam a terra; poetas, a linguagem.

      [Do Livro de Pré-Coisas, 1985]

Um girassol se apropriou de Deus: foi em Van Gogh.

*
Poesia é voar fora da asa.

      [De O Livro das Ignorãças, 1993]
 

Não gosto de palavra acostumada.

*
Do lugar onde estou já fui embora.

      [De Livro sobre Nada, 1996]


*
Noventa por cento do que escrevo é invenção; só dez por cento que é mentira.

      [De Ensaios Fotográficos, 2000]

Escrever o que não acontece é tarefa da poesia.

*
Pra meu gosto a palavra não precisa significar — é só entoar.

*
No gorjeio dos pássaros tem um perfume de sol?

*
Eu queria pegar na semente da palavra.


      [De Menino do Mato, 2010]

poesia.netwww.algumapoesia.com.br
Carlos Machado, 2014

Manoel de Barros
Poemas extraídos de:
•  Poesia Completa
    
Leya, 6a. reimpr., São Paulo, 2010

______________
* Myriam Fraga, "Ressaca", in Femina (1996)

______________
- Todas as imagens: pinturas do ítalo-brasileiro Alfredo Volpi (1896-1988)

quinta-feira, 20 de novembro de 2014

SALVADOR HOJE NÃO É FERIADO

SALVADOR - BAHIA - BRASIL

HOJE, DIA DA CONSCIÊNCIA NEGRA, EM SALVADOR,

A CIDADE MAIS NEGRA DO MUNDO (DEPOIS DAS CIDADES DO CONTINENTE AFRICANO), ONDE NUNCA ELEGEU UM PREFEIOTO NEGRO, HOJE NÃO É FERIADO

EM SÃO PAULO, CIDADE ITALIANA, JAPONESA, NEGRA, AMARELA, BRANCA, QUE ABRIGA O MUNDO INTEIRO, HOJE É FERIADO

segunda-feira, 17 de novembro de 2014

SALVADOR - I SEMINÁRIO HERANÇA AFRICANA - GENEALOGIA DA MÚSICA E DO CANDOMBLÉ

I SEMINÁRIO HERANÇA AFRICANA - GENEALOGIA DA MÚSICA E DO CANDOMBLÉ

UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA
CAMPUS SALVADOR - BAHIA

https://br-mg6.mail.yahoo.com/neo/launch?.rand=1846nabr2sqe5#9645207662




CONVITE 


Comissão Organizadora do I Seminário Herança Africana: Genealogia da Música e do Candomblé Angola convida Vossa Senhoria para participar das atividades do referido evento e das Solenidades de Abertura e Encerramento.

Além da difusão de conhecimento arte sobre o tema da Música e  do Candomblé Angola ocorrerão  atividades voltadas para  o Dia Nacional da Consciência Negra e homenagem ao Centenário de Nascimento do Babalorixá João da Goméia (Prêmio Oyá) . Informo em tempo   que a homenagem é de grande relevância para a Universidade do Estado da Bahia pois será a primeira a ser realizada no Estado da Bahia após os 43 anos da morte de Joãozinho da Goméia (1971) e a única no ano de 2014  em que se comemora o Centenário de Nascimento (1914-2014).

Local: Auditório Jurandyr Oliveira no Departamento de Educação (DEDC-I) da Universidade do Estado da Bahia (UNEB).

Data: 20 e 21/11/2014

Horário: 8h30min 21h0min

Endereço: Rua Silveira Martins, nº 2555, Bairro do Cabula, CEP  41.150-000, Salvador (BA).
Contato: projetocorooya2014@outlook.com (071) 3117- (Sala dos Professores do DEDC-I).
Em anexo: Programação.

Mais Informações nas  Páginas do Facebook e da UNEB:

SÍNTESE DA PROPOSTA DO SEMINÁRIO

O I Seminário Herança Africana na Bahia tem como finalidade promover um debate sobre conteúdos ligados a produção, difusão e fomento à Cultura de Matriz Africana na Bahia. Cada edição privilegiará um tema cuja abordagem tem caráter multidisciplinar, pois envolverá além de pesquisadores, intelectuais e  artistas  atenderá a pluralidades de áreas do Conhecimento, a saber: filosofia, música, cinema, artes plásticas, teatro, dança, gastronomia, antropologia, sociologia, ciências políticas, direito, historiografia, museologia e educação. 
Em sua primeira edição o evento abordará questões relacionadas a problemática A Genealogia da Tradição Angola no que Tange à Música e à Religião do Candomblé da Bahia.
Dentre as atividades propostas, destacam-se a realização de conferências, palestras, sessões de comunicação, relatos de experiência, debate, exibição de filmes e vídeo de curta duração e apresentação musical.
Destaque Especial  Dia 21/11/2014 (19h-22h):
Homenagem ao Babalorixá  Joãozinho da Goméia
Lançamento do Prêmio Oyá de  Personalidades Negras da Música e do Candomblé da Bahia (vinculado ao Projeto Coro Oyá de  Música Sacra do candomblé da Bahia).

COMISSÃO ORGANIZADORA

Prof. ª   Jardelina Nascimento Bispo (UNEB/DEDC-I/ SERINT)
Prof. ª Julice Oliveira (DEDC-I/ UNEB)
Prof. Esp. Francisco Sales de Araújo Sousa  (DCH-IV/ UNEB)
Prof.ª. Núbia dos Reis Ramos (DCHT-XVII/UNEB)
 Prof. Ricardo Moreno (SEAI/ UNEB)
Prof.ª Marluce Macedo (PROAF/ CEPAIA/UNEB)

Monitores DCH -I, DCV-I e DEDC-I

Ademária Silva, Adriele do Carmo, Carlos Vinícius Pereira, Carolina Pinho, Daniela Paixão, Elizabeth Cristina Monteiro, Isa Caroline, Jaiane Santos, Jéssica Nunes, Letícia Costa, Luana Moura, Lucas de Matos, Maiara França, Mateus Gonçalves, Michele Menezes e Marcos Paulo.



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